Isabel dos Santos reforça participação no capital do BPI para 19,3%
La Caixa revendeu a empresária angolana quase 10% do capital do BPI. Em Abril, espanhóis tinham comprado posição ao Itaú
O La Caixa chegou a acordo com Isabel dos Santos para lhe vender parte das acções do BPI que adquiriu há cerca de um mês ao banco brasileiro Itaú. A empresária angolana vai reforçar a sua posição dos actuais 9,4%, para 19,3% do BPI, tendo investido 0,5 euros por acção (o mesmo valor pago pela La Caixa aos brasileiros), menos 1,35 euros do que tinha pago em 2009 quando entrou na instituição portuguesa.
O anúncio de que a posição de 18,8% detida pelo Itaú no BPI seria repartida em partes iguais entre o grupo bancário público espanhol e Isabel dos Santos (Santoro), negócio que está sujeito ao parecer positivo do Banco de Portugal, voltou a mexer nos reequilíbrios de capital que envolvem a quarta maior instituição bancária portuguesa. Quando divulgaram a compra da posição do Itaú, a 21 de Abril, os espanhóis assumiram quase metade do capital, 48,97%, posição que descerá agora (caso o BdP autorize) para 39,5%, cerca do dobro das acções que ficarão nas mãos da empresária angolana. Isabel dos Santos vai aumentar a sua posição no BPI de 9,4% para 19,3%. Como os direitos de voto no banco estão blindados a 20% (nenhum accionista pode votar com mais, ainda que tenha uma presença mais forte), quer o La Caixa, quer a holding Santoro terão o mesmo poder. Caso haja alteração de estatutos, então os espanhóis terão de lançar uma OPA sobre a totalidade do capital (pois já têm mais 30%).
Tudo indica que as conversações entre as duas partes, angolanos e espanhóis, e que culminaram no entendimento agora conhecido, já vêm de trás. No final do ano passado, os brasileiros comunicaram aos grandes accionistas do BPI a sua intenção de "largar" o grupo presidido por Fernando Ulrich, onde tinham entrado 20 anos antes. De imediato, Isabel dos Santos (através do seu representante na administração do BPI, Mário Silva) manifestou-se logo disponível para ficar com os 18,8%, mas o Itaú, que em Portugal tem à frente Carlos Câmara Pestana, optou por dar preferência ao maior accionista do BPI, o La Caixa, alegando um acordo verbal antigo.
O novo quadro de capital do BPI, que registou alteração de posições entre investidores, coloca algumas incógnitas, nomeadamente saber o que pretendem, no futuro, os dois maiores accionistas. E tudo depende da forma como encaram os seus interesses na instituição e o que pretendem fazer do acordo. É provável que o processo que ontem terminou com a divulgação do entendimento, seja afinal mais uma etapa de um movimento mais complexo que, no final, poderá acabar com a partilha de poder entre ambos: os espanhóis ficam com o BPI e Isabel dos Santos com o Banco de Fomento de Angola (BFA). Através da Unitel, a empresária já controla 49% do BFA, sendo que o BPI domina o resto das acções. No sector financeiro luso-angolano, para além do BFA e do BPI, é accionista de referência do BIC/BPN com 25%.
As movimentações que estão a envolver o BPI vieram quebrar com o modelo desenhado pelo banqueiro fundador da instituição, Artur Santos Silva: um grupo com vários investidores de referência, estrangeiros e nacionais, com posições que se equilibravam. Os primeiros sinais de que algo mudava no BPI surgiram em 2008 quando o La Caixa fez sucessivos reforços no capital, atingindo 33% em 2011, sem que o Itaú o acompanhasse. Ao contrário dos brasileiros, o grupo espanhol não escondia ter um interesse contínuo e permanente no banco português. Agora, garante às autoridades portuguesas que vai respeitar a blindagem dos estatutos.