O Norte e o Sul pelo coro da Estónia
Criado em 1981, o Coro de Câmara Filarmónico da Estónia (CCFE) adquiriu rapidamente um lugar de destaque a nível mundial, convertendo-se, ao mesmo tempo, num embaixador dos compositores do seu país, com destaque para Arvo Pärt.
Nos Dias da Música o coro apresenta três programas diferentes (um dos quais em parceria com a Orquestra de Câmara Portuguesa), percorrendo um leque diversificado de obras de diferentes tradições desde o século XIX até ao século XXI e incluindo a estreia da peça Descubro a Voz, de Luís Tinoco, e Pequeno Poemário de Sophia, de Eurico Carrapatoso (hoje, às 18h). A direcção musical será de Daniel Reuss, maestro titular desde 2008, tendo sucedido no cargo a Paul Hillier (o actual maestro principal do Coro Casa da Música).
"A tradição coral dos países bálticos é muito forte, quase toda a gente canta", diz Daniel Reuss ao PÚBLICO. "Os coros da Estónica têm uma cor sonora especial que tem a ver com a própria língua, que é mais escura. Em comparação com a Europa Ocidental, os sons são mais encorpados e mais pesados, o que dá origem a uma imagem sonora peculiar que tem sido explorada por vários compositores, dos quais o mais famoso é Arvo Pärt."
A música de Pärt estará presente em todos os programas que Reuss vai dirigir nos Dias da Música, em paralelo com composições de Beethoven, Brahms, Mendelssohn e Sibelius, e com peças mais recentes de Schnittke, Galina Grigorjeva, Tinoco e Carrapatoso.
"Tentámos encontrar um bom equilíbrio entre a nova música e compositores de referência para o público. Em cada peça o grande desafio é projectar o estilo e o mundo sonoro de países tão diferentes como a Estónia, a Rússia, a Alemanha ou Portugal", diz.
Em relação ao repertório português, que Daniel Reuss não conhecia, fez a sua selecção entre uma dezena de peças que lhe foram enviadas pelo Centro Cultural de Belém e, posteriormente, contou com a ajuda de um preparador vocal no plano da língua e da pronúncia.
A familiarização com o português nas suas frequentes visitas a Lisboa também ajudou. "As peças do Luís Tinoco e do Eurico Carrapatoso foram óptimas surpresas, é música que não poderia ter sido escrita na Estónia. Nela podemos sentir o acento e a luminosidade do Sul, é música encantadora, muito fácil de ouvir, que agradará certamente ao público. Nós gostámos imenso de a estudar."