"Este é o Meu Lugar" é filme literalmente passado dos carretos, esgrouviado até à quinta casa, que arrisca espatifar-se ao comprido com absoluta compreensão que, se o fizer, parte-se em mil bocadinhos e não sobra nada. É no que dá o italiano Paolo Sorrentino ter querido fazer um road movie existencial pelos EUA, com Sean Penn a fazer de estrela rock gótica reformada em busca do guarda de Auschwitz que o seu pai judeu perseguiu durante anos, em tom de American Gothic-spaghetti.
Esteta formalista de um virtuosismo quase ostensivo, Sorrentino nunca viu um movimento de câmara de que não gostasse e Este é o Meu Lugar nunca pára quieto mesmo quando não tem nada para dizer. Mas há qualquer coisa de sedutor neste filme que tem mais ideias por minuto do que a maior parte da concorrência em toda a sua duração, no modo como esta viagem que é também a de um homem pela vida que deixou escapar por entre as mãos literalmente escorre melancolia e remorso. E, sobretudo, há que respeitar o abandono total de actor e realizador ao surrealismo desconcertante de um filme que não tem medo nenhum do ridículo (e que cai nele umas quantas vezes). Talvez a chave de Este é o Meu Lugar esteja na canção dos Talking Heads que lhe serve de leit-motiv: This Must Be The Place trazia no subtítulo “melodia naïve”. É isso que este filme é e quem quiser abrir os ouvidos pode encontrar surpresas.