O dia 5 de Abril de 2012 fica para a história do desporto nacional. O futebol feminino alcançou, pela primeira vez, a passagem a uma grande competição internacional. As obreiras foram as jogadoras da selecção de sub 19, que garantiu a presença no Campeonato da Europa a disputar entre 2 a 14 de Julho, na Turquia. Um dos principais rostos das lusas é Rita Fontemanha, 18 anos, capitã de equipa.
O futebol feminino é diferente. A portuense de 18 anos, estudante de Direito, é peremptória. “Os ritmos de jogo são naturalmente mais baixos no futebol feminino, porque os homens são mais possantes”. Em contrapartida, “as mulheres entregam-se mais ao jogo e são mais inteligentes, pensam melhor o jogo”, reitera.
O desconhecimento do futebol feminino continua a suscitar comentários desagradáveis, acredita Rita Fontemanha. “Dizem ‘as mulheres não sabem jogar futebol, por isso é natural que vás à selecção’”. Uma mentalidade que pode mudar, graças ao impacto mediático que a qualificação para o Europeu motivou.
Fã de Xavi, João Moutinho, Iniesta e Hugo Viana e, na vertente feminina, de Cláudia Neto e Dolores Silva, Fontemanha não vê no futebol feminino uma oportunidade profissional. “Encaro o futebol unicamente como um 'hobby'. Se surgir a hipótese de jogar no estrangeiro, não digo que não, pela experiência, mas o futebol feminino ainda não dá garantias de futuro”, lamenta.
Certo é que, em Julho, Portugal vai estar entre os oito participantes do Campeonato da Europa de sub19 e Rita Fontemanha não se contenta com vitórias morais. “Fizemos história, mas queremos fazer história de novo. Vamos jogar de cabeça erguida e sem medo de nenhuma equipa. Estamos prontas para isso”.
Do Salgueiros ao Boavista
A centrocampista sempre gostou de futebol. Mas foi no ténis que deu os primeiros passos no desporto. Aos 11 anos, Rita frequentava o Colégio dos Carvalhos, onde as colegas, a par da sua paixão, convidaram-na para integrar a equipa. Com 13 anos, passou a servir as cores do Salgueiros. “Fomos nós que abrimos o Salgueiros 08, que agora está na 2ª divisão”, conta ao P3.
Ambiciosa, Rita achou que, depois de uma época no histórico clube de Paranhos, precisava de um novo desafio. “Convidaram-me para jogar no Boavista. Fizeram muitas captações e eu arrisquei, porque estava na altura de dar um passo em frente para chegar à 1ª divisão”.
A partir daí, a sua carreira descolou para o sucesso. Com modéstia, hesita em apontar os momentos mais notáveis do seu percurso, mas acaba por elegê-los. Aos 13 anos, foi chamada à selecção de futebol do Porto. “Ir às selecções distritais é sempre importante para qualquer jogadora, porque é aí que se começam a definir as carreiras”, sublinha.
Mais tarde, Rita pisa o relvado do Jamor, na final da Taça de Portugal frente ao 1º Dezembro, onde se depara com o aparato digno dos maiores palcos. “Havia policiamento, estava lá a televisão e nunca tive tanta gente a assistir a um jogo meu, 5000 pessoas”.
No mesmo ano de 2010, soma a primeira internacionalização, mas, de quinas ao peito, o marco mais importante está bem fresco na memória. “É um feito que não dá para explicar”, afirma a propósito da passagem ao europeu. Na qualificação, Rita assinou o “melhor golo” da carreira, contra a vice-campeã europeia Noruega, que à custa do talento das portuguesas não figura nas oito finalistas.