Sem remorsos, Anders Breivik disse que, se pudesse, faria tudo outra vez
Numa declaração de 13 páginas, o norueguês defendeu em tribunal a sua "espectacular e sofisticada" acção política
O norueguês Anders Behring Breivik, que está a ser julgado pelos "actos terroristas" que causaram a morte de 77 pessoas em Julho do ano passado, defendeu ontem em tribunal a sua campanha assassina, a "mais sofisticada" e a "mais espectacular" acção política em território europeu desde o fim da Segunda Guerra Mundial, explicou. Assegurando que as suas intenções foram "boas e não malévolas", acrescentou que, se pudesse, voltaria a fazer tudo outra vez.
A pedido da defesa, o tribunal autorizou que o arguido fizesse uma declaração inicial para explicar os factos e esclarecer os seus motivos. Breivik definiu-se como representante de um movimento europeu de resistência anticomunista, um militante nacionalista e membro de um grupo anti-islamista chamado Cavaleiros Templários, e justificou os ataques em Oslo e na ilha de Utoya como um "raide preventivo" para proteger o seu país e o seu grupo étnico. O seu objectivo, prosseguiu, foi travar uma "guerra civil inevitável" por causa da defesa do multiculturalismo e da promoção da imigração de muçulmanos para a Europa.
Os alvos da sua "cruzada", explicou, são não só os membros do Partido Trabalhista (que governa a Noruega), mas também os restantes parlamentares e a elite política "pró-multicultural", que "irracionalmente pretende desconstruir o seu próprio grupo étnico". "A resistência armada a estes grupos não pode ser ilegal", advogou, insistindo que as suas acções foram "em legítima defesa" (contra os muçulmanos) e baseadas no "princípio da necessidade".
O texto de 13 páginas escrito pelo arguido continha uma autêntica miscelânea de referências históricas: Breivik comparou as suas acções às dos comandantes americanos que largaram bombas atómicas sobre Hiroxima e Nagasáqui, "para salvar milhões de vidas" e, surpreendentemente, evocou a resistência dos chefes nativos americanos à expansão dos colonos europeus para rejeitar a acusação de terrorismo. "Alguém acha que [os líderes índios] Touro Sentado ou Cavalo Louco eram terroristas por lutarem pela sua cultura indígena? Ou concordamos que eram heróis?", perguntou.
Antes do início da sessão de ontem, um dos três "juízes-leigos" que compõem o colectivo foi afastado por ter defendido a aplicação da pena de morte a Breivik.
Os chamados "juízes-leigos" são uma especificidade da justiça norueguesa: o sistema foi estabelecido há mais de cem anos, por se considerar que o bom senso de pessoas independentes serviria de contrapeso ao poder do Estado. Estes "juízes", que não interferem em matéria de direito e apenas são chamados a pronunciar-se para determinar a culpa em processos criminais, são residentes nomeados pelas autoridades locais por um período de quatro anos, e em média assistem a dois julgamentos por ano.