Mauro Pinto é o vencedor "sem artifícios" do BesPhoto 2012

Mauro Pinto fez mais de mil fotografias no Bairro da Mafalala e escolheu apenas 12 para o projecto "Dá Licença"
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Mauro Pinto fez mais de mil fotografias no Bairro da Mafalala e escolheu apenas 12 para o projecto "Dá Licença" DR/Mauro Pinto
Mauro Pinto fez mais de mil fotografias no Bairro da Mafalala e escolheu apenas 12 para o projecto "Dá Licença"
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Mauro Pinto fez mais de mil fotografias no Bairro da Mafalala e escolheu apenas 12 para o projecto "Dá Licença" DR/Mauro Pinto
Mauro Pinto fez mais de mil fotografias no Bairro da Mafalala e escolheu apenas 12 para o projecto "Dá Licença"
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Mauro Pinto fez mais de mil fotografias no Bairro da Mafalala e escolheu apenas 12 para o projecto "Dá Licença" DR/Mauro Pinto
Retrato de Mauro Pinto
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Retrato de Mauro Pinto DR

E a carta fora do baralho revelou ser, afinal, um trunfo. Mauro Pinto, nascido em 1974 em Maputo, Moçambique, foi ontem escolhido "por unanimidade" como novo vencedor do BesPhoto, o mais importante prémio de fotografia em Portugal, que atribui 40 mil euros.

À oitava edição - a segunda aberta a artistas de outros países de língua portuguesa -, Mauro Pinto candidatou-se ao lado do português Duarte Amaral Netto (n. Lisboa 1976) e dos brasileiros Rosângela Rennó (n. Belo Horizonte, 1962) e colectivo Cia de Foto, criado em 2003. Na exposição de avaliação apresentou uma selecção de 12 fotografias de uma longa série intitulada Dá Licença, com mais de mil imagens realizadas no emblemático Bairro da Mafalala, onde viveram muitos dos que fizeram a independência moçambicana.

Samora Machel, Chissano, Marcelino dos Santos. Mas também Eusébio e Craveirinha. Com o tempo, o Bairro da Mafalala acabou por se tornar um bizarro destino turístico da capital moçambicana. Mauro Pinto concentrou-se nos interiores das casas: chão de cimento, tectos e paredes de lusalite, cadeiras e mesas de plástico, sofás de cabedal esventrados. Nas suas imagens não há turistas nem moradores, não há pessoas - os objectos e ambientes surgem como retrato da vida, por ausência.

"Esta série revela a entrega do artista à realidade das pessoas que habitam os espaços aqui retratados, ao mesmo tempo que transmite uma perspectiva histórica e sociológica da realidade contemporânea moçambicana", escreveu nas ponderações finais o júri de premiação internacional, este ano constituído por Dominique Fontaine, curadora e assessora da plataforma POSteRIORI (Montreal), Dirk Snauwaert, curador e director do Wiels Arts Center for Contemporary Art (Bruxelas), e Ulrich Loock, ex-director adjunto do Museu de Serralves e do Kunsthalle Bern.

O júri sublinha ainda "a forma como o artista utiliza a luz, dando vida aos elementos presentes": "Da cor aos objectos, é de realçar a capacidade com que o seu trabalho nos transporta para uma realidade habitada" - isto com uma apresentação "sem artifícios na sua essência".

A presença não artificiosa do seu trabalho é precisamente o que faz de Mauro Pinto uma carta fora do baralho de afinidades entre um grupo de candidatos cuja obra explora, em geral de forma mais construída, noções ligadas à fotografia como suporte e como documento.

Para o projecto com que se apresentou ao prémio, Rosângela Rennó, talvez o nome mais conhecido de entre os candidatos - está até 6 de Maio no Centro de Arte Moderna da Gulbenkian com a exposição Frutos Estranhos -, partiu de uma série de imagens do princípio do século XX compradas numa loja de segunda mão.

De regresso à ontologia da imagem, em Lanterna Mágica, voltou às técnicas clássicas: a revelação sobre papel, o controlo da luz... Sobre as imagens que ampliou a partir de negativos - um lago, um conjunto de árvores, um caminho... - fez incidir um cone de luz, criando fantasmagorias, buracos negros que engolem secções de informação das imagens, num gesto tanto de atribuição de nova carga simbólica a imagens preexistentes como numa reflexão sobre a necessidade de construção de novas imagens.

O colectivo Cia de Foto apresentou fotografias, mas também vídeos - propostos como paisagens sonoras. Imagens de negros densos com trabalhadíssimas presenças de luz, a remeter para uma das questões essenciais da fotografia: o eterno conflito entre a luz e a sombra.

E outra questão de base em torno da fotografia no projecto com que se candidatou Duarte Amaral Netto: as problemáticas e narrativas construídas à volta da oposição real versus ficção.

Lisboa-São Paulo

Na primeira sala da exposição do prémio, que fica até 27 de Maio no Museu Berardo, em Lisboa, e depois viaja para a Pinacoteca de São Paulo, Brasil (16 de Junho a 5 de Agosto), Amaral Netto mergulha-nos de imediato na dúvida, um território em que as fronteiras entre documento e suporte de construção ficcional se esbatem.


Conhecemos Z que, em 1938, formado em Medicina pela Universidade de Coimbra, parte para a Alemanha, para se especializar na reconstrução de lesões faciais no Hospital da Luftwaffe. São dezenas de fotografias: Z num curso de planadores; Z a esquiar; Z com os colegas do hospital, em jantares, festas; imagens de pacientes deformados; soldados fardados; a fuga para França através da floresta de Ardennes... Presumimos que Z não existiu, e que as imagens que observamos pertenceram a diferentes narrativas que não aquela que compõem na mostra.

Numa entrevista no catálogo do prémio, Mauro Pinto explica como, aos 12 anos, chegou à fotografia com o português Alexandre Júnior: "Procurei-o para lhe dizer que queria ser fotógrafo, ele não acreditou em mim [...] pegou num livro de Ansel Adams e numa revista [...] e disse: "Miúdo, vai ler e ver as fotos. Quando acabares volta." [...] uma semana depois estava lá. [...] mais tarde fiz um curso por correspondência e um estágio na Foto Retina. E foi assim..."

No final dos anos 1990, Mauro Pinto estudou na Monitor International School, em Joanesburgo. Em 2002 integrou pela primeira vez a PhotoFesta, em Maputo. Tem participado em várias exposições internacionais desde então.

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