Vive uma casa abandonada no cinema de Aya Koretzky

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Aya Koretzky

Para Além das Montanhas, retrato sobre a vinda da realizadora do Japão para Portugal, é exibido hoje no Panorama, no São Jorge

Quando a sua filha tinha nove anos, o pai japonês e a mãe belga de Aya Koretzky decidiram trocar Tóquio, uma das maiores metrópoles do mundo, por uma casa abandonada perto de Coimbra, sem água nem electricidade. A realizadora revisita a viagem que mudou a sua vida em Para Além das Montanhas, que passa hoje no Panorama 2012 - Mostra do Documentário Português, às 21h.

A decisão era radical: encontrar um lugar que lhes oferecesse tranquilidade. "Foi procurar um ideal de vida, fugir das centrais nucleares e procurar a natureza, onde se pudesse viver de forma sã", explica Koretzky (Tóquio, 1983). "Os meus pais encontraram uma quinta e uma casa abandonada e decidiram aventurar-se nesse recomeço. Nunca tínhamos cultivado nem trabalhado a terra. Foi um processo de aprendizagem sobre como viver no meio do nada."

Quase vinte anos depois, a realizadora desenterra a sua memória. "A ideia veio quando estava a trabalhar num filme realizado por mim sobre uma família de japoneses e a infância de dois irmãos. Já trabalhava na montagem quando percebi que não estava a ser suficientemente verdadeira comigo mesma: sentia a necessidade de reflectir sobre a minha infância."

Do desenterrar dessas memórias - excertos de filmes de família no Japão e na sua escola; imagens de um novo início debaixo de um céu de estrelas no interior português -, Aya Koretzky confrontou-se com o desejo submerso de buscar as suas origens e compreender, com ternura, o papel dos pais na sua vida. "Foi uma forma de aceitar uma perda e de perceber que estou no sítio certo. O filme é também um elogio à natureza e à importância que esta tem para as nossas vidas. Foi à procura dela e da paz interior que os meus pais percorreram meio mundo."

Mas o que comove no filme, a quem o Doclisboa atribuiu os prémios de Melhor Longa-Metragem Portuguesa e o Prémio Escolas, é afrontar os moldes da memória e a sua importância na nossa identidade. Para Koretzky, o cinema faz-nos ver diferentes formas de viver, de pensar e de sonhar: "As emoções e os sentimentos são universais, independentemente da origem, da cultura ou do género, e é bonito isso poder ser partilhado."

Juntam-se histórias de outros territórios num novo país, que foi, também, o do crescimento de Aya, e que vemos agora pôr um universo diferente no cinema português. Para o futuro: "Tenho um projecto sobre o meu avô russo, uma história que se passa no início do séc. XX sobre as cartas que a minha bisavó lhe escrevia, após se separarem, quando ele tinha 16 anos."

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