Fernando Costa, Rui Alves e Hélder Maiato são exemplos de sucesso na música, no design e na ciência, respectivamente. Dois deles foram premiados no estrangeiro e um deles em Portugal.
Fernando é o mais novo dos três. Aos 20 anos frequenta o 3.º ano de Violoncelo na Escola Superior de Músicas e Artes do Espetáculo (ESMAE) do Porto. Aos 7 anos, por influência dos pais — professores de música —, começou a estudar violoncelo no Conservatório e nunca mais parou.
Em 2011, surgiu a oportunidade de participar no Prémio Jovens Músicos, um concurso promovido anualmente pela RTP através da Antena 2, que pretende descobrir novos talentos e promover os jovens intérpretes nacionais, ou residentes em Portugal, na área da música erudita. Apesar de ser um concurso que "traz muita gente de muita qualidade", Fernando chegou, arriscou e venceu, ao ser eleito um dos três vencedores.
Também na arte, mas ao nível do design, Rui Alves, de 35 anos, foi um dos portugueses premiados no Red Dot Design Award 2010, uma espécie de "óscares do Design". "É, actualmente, a par de mais um ou dois prémios na área do design, aquele que terá mais impacto a nível mundial", diz.
A concurso apresentou uma linha de mobiliário à qual deu o nome de "Welcome to the jungle" e que nasceu de "pequenas brincadeiras" com o seu filho, "com bonecos animais de borracha". Define o seu projecto como um conjunto de "peças que deixam para o utilizador a última palavra na questão da construção ou reconstrução, adaptação dessas peças aos ambientes que a pessoa poderá ter em casa e utilizá-las de várias formas".
Hélder Maiato é investigador do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) e professor auxiliar da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). Aos 36 anos conta já com três prémios de ciência: o Prémio Crioestaminal em 2006 e o Prémio Gulbenkian de Apoio à Investigação na Fronteira das Ciências da Vida, atribuídos graças ao desenvolvimento e aplicação de uma técnica que aprendeu nos Estados Unidos da América. Hélder trouxe essa técnica para Portugal e aplicou-a "num sistema novo, que tem a ver com a aplicação de uma espécie de uma microcirurgia, usando lasers muito afinados que permite entrar dentro da célula, mantendo a célula viva".
Em Janeiro deste ano, Hélder Maiato pertenceu a uma das equipas vencedoras do prémio Pfeizer 2011, com um projecto de investigação que permite o controlo do "processo de divisão celular" e que pode ajudar nos avanços da cura contra o cancro. "A maior parte do tipos de cancro, numa determinada fase de existência, é caracterizada por uma proliferação celular excessiva, isto é, as células dividem-se quando não se deviam dividir. Portanto, se o problema é dividirem-se a mais, nós temos de controlar o processo de divisão, ou seja, fazer com que elas parem", explica.
"Em Portugal é necessário ter prémios"
Além de os prémios funcionarem como um sinal de reconhecimento ou de facilitarem possíveis investimentos em projetos futuros, Hélder Maiato, investigador do IBMC, afirma que os prémios funcionam essencialmente como "uma forma de receber feedback" daquilo que estão a fazer. "Sobretudo dá visibilidade ao nosso trabalho", refere.
Para o professor auxiliar da FMUP, os prémios atribuídos são uma boa forma "de chegar ao público em geral" e, ao mesmo tempo, de ficar exposto "à crítica". "A nível profissional não creio que seja determinante, o que é determinante na carreira de um investigador é o trabalho em si."
Apesar de Hélder Maiato não considerar os prémios recebidos "essenciais", eles "foram muito importantes". "Muitos deles vêm associados a um valor monetário, que depois pode ser usado para investirmos na nossa investigação", continua o investigador. Já Fernando Costa, o jovem estudante de violoncelo, afirma que, "em Portugal, é necessário, ou quase sempre necessário, ter esses prémios no curriculum", por ser uma das poucas maneiras de ter oportunidade de divulgar o trabalho.
Apesar de ainda não notar a "influência do prémio", o músico tem "tido alguns concertos e alguns contactos". A passagem pelo Prémio Jovens Músicos 2011 foi, para o violoncelista, "uma experiência única", uma vez que teve a oportunidade de "tocar com uma das orquestras mais prestigiadas de Portugal e com o público a assistir na televisão pelo país todo".
Uma janela de oportunidades
Rui Alves já tem o seu próprio estúdio há cerca de 12 anos. "Há algum tempo que vinha tentando mostrar o meu trabalho no exterior. Tentei cá mas as portas não se abriram, então acabei por tentar a minha internacionalização."
Com a promoção que o Red Dot proporcionou, Rui Alves acabou por ser solicitado para propostas de projectos e divulgação mas, "infelizmente", esses convites surgiram "mais por parte do exterior". "É a sina de qualquer português", refere, ainda que acredite que, por cá, gradualmente, as pessoas vão acabar por mostrar interesse sobre o seu trabalho.
Hélder Maiato afirma que, a par da ajuda e do apoio que as distinções dão aos vencedores dos concursos das mais variadas áreas, existem interesses por parte dos patrocinadores que pretendem divulgar a sua associação a este género de iniciativas. "Os prémios não são dados de toda a boa vontade. Há aqui um retorno de uma imagem que se quer criar. Vêem-se cada vez mais empresas e grandes grupos económicos a querer associar o seu nome a coisas positivas", aponta o investigador.