Acidente no porto de Leixões provocou um morto e três feridos
Um cálculo errado do peso de uma peça do guindaste Titan, em desmontagem, terá estado na origem do acidente. A peça caiu sobre um pipeline de gás, originando explosões e um incêndio
Um acidente no molhe sul do porto de Leixões, em Matosinhos, provocou ontem um morto, dois feridos ligeiros e um ferido grave, com queimaduras de 2.º e 3.º graus. Este foi submetido a operações cirúrgicas, durante a tarde de ontem, no Hospital de São João, no Porto. Apesar de responsáveis no local terem relatado a existência de apenas um ferido a necessitar de tratamento hospitalar, o Hospital de São João adiantou a existência de um segundo ferido, ligeiro, que já teve alta e fará medicação em casa. O outro ferido ligeiro recebeu tratamento a uma fractura num pulso, no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, e também teve alta.
Na origem do acidente esteve a queda do contrapeso do guindaste histórico Titan, que está a ser desmantelado desde o passado dia 3. O contrapeso, de grande dimensão e toneladas de peso, caiu em cima do pipeline de gás que liga o terminal de petroleiros aos armazéns, no Parque de Real. O choque provocou uma grande explosão principal, seguida de outras menores, e um incêndio com grandes labaredas e uma coluna de fumo negro que foi visível a quilómetros de distância.
Feito o seccionamento de emergência do pipeline, o fogo foi combatido através de autotanques e, principalmente, dos canhões de água de dois navios rebocadores. Por precaução, procedeu-se à evacuação da área envolvente. No local estiveram 45 veículos e 73 homens, de várias corporações de bombeiros. Esta abundância de meios está prevista no plano de emergência do porto de Leixões, mas, como reconheceu João Braga da Cruz, director de Obras e Equipamentos da Administração dos Portos do Douro e Leixões (APDL), "não foi necessário utilizar" grande parte do dispositivo. "Podemos dizer que uma situação grave ficou resolvida em 30 minutos", acrescentou este responsável, referindo-se ao apagar das chamas.
A vítima mortal é um funcionário da empresa contratada pela APDL para desmantelar o Titan e estaria numa das duas gruas que deveriam suster o contrapeso. Além desta vítima, do ferido grave e dos dois feridos ligeiros, o acidente deixou ainda várias pessoas em estado de choque, com ataques de ansiedade. Outras sofreram quedas ao fugirem do local. Devido às obras de construção do edifício de acolhimento do Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões, na altura do acidente "estariam a trabalhar entre 60 e 80 pessoas" na zona, explicou João Braga da Cruz.
Segundo o presidente da Câmara de Matosinhos, Guilherme Pinto, a explosão principal foi tão intensa que fez tombar um camião-grua que segurava o contrapeso que caiu em cima do pipeline. Esta tubagem, apesar de próxima do local dos trabalhos de desmantelamento do guindaste, não dispunha de qualquer protecção no momento do acidente. Porém, o PÚBLICO apurou que o peso do contrapeso terá sido subestimado. Esse factor é que terá levado ao tombo da grua, e não a explosão, que foi posterior. "Com certeza que será aberto um inquérito", disse Guilherme Pinto aos jornalistas. João Braga da Cruz confirmou que este procedimento seria adoptado e avançou que as primeiras conclusões deverão ser conhecidas "dentro de duas semanas" e o relatório final "no prazo de um mês".
Para Guilherme Pinto, o acidente de ontem inscreve-se no "preço que Matosinhos paga pela existência de um pipeline no casco urbano". Situação que, garantiu, deixará de existir "dentro de dois anos", quando o armazenamento de combustíveis passar, como previsto, para novas instalações em Perafita e Leça da Palmeira. Questionado sobre a existência de riscos ambientais decorrentes do acidente, o autarca afirmou que "não haverá consequências, apesar de existirem grandes prejuízos materiais".
Habituado a lidar, de tempos a tempos, com explosões e incêndios, nomeadamente na refinaria da Petrogal, Guilherme Pinto não escondeu o desagrado por este acidente. "Devia ter havido um especial cuidado a movimentar uma peça que pesa toneladas", vincou. O autarca aludiu ainda a falta de "cuidados e cautelas" e "falhas de segurança"nos trabalhos em curso neste porto com cinco quilómetros de cais e 55 hectares de terraplenos.
Junto à entrada sul do porto de Leixões, aglomeraram-se algumas pessoas que vivem e trabalham nas proximidades. A maioria disse ao PÚBLICO que não ouviu nenhuma explosão e que se deslocou ao local devido à "agitação de carros dos bombeiros e do INEM" e pela "nuvem de fumo negro". António Magalhães, antigo guarda do porto, agora reformado, também não ouviu nenhuma explosão, mas acredita que terá sido originada por "um furo na tubagem do combustível" nas obras do novo cais, onde "antes eram abastecidas as traineiras". Disse ainda que os primeiros apoios a chegar ao local do incêndio foram os rebocadores da APDL: "São os únicos capazes de apagar um incêndio assim, puxando água do mar e espuma", comentava.
O Cantinho, um bar situado junto à entrada do porto, foi mandado encerrar pela Protecção Civil, cerca das 13h, tendo recebido permissão para reabrir meia hora depois.
"Concelho inseguro"
Ontem ainda, a Federação dos Bombeiros do Distrito do Porto criticou o anunciado corte de 250 mil euros de comparticipações (em consequência da Lei dos Compromissos) às corporações de Matosinhos, considerando que este "poderá ser um concelho inseguro". "A Câmara de Matosinhos prevê o corte de toda a comparticipação financeira à prevenção, segurança e socorro", disse à Lusa o presidente da direcção da Federação dos Bombeiros do Distrito do Porto, José Miranda. O dirigente falava a propósito de uma reunião com os quatro corpos de bombeiros do concelho, anteontem à noite, para "analisar a situação muito crítica e de consequências imprevisíveis" dos referidos cortes. Num comunicado que "não é reactivo à explosão [de ontem], mas proactivo", a federação salienta que o "concelho de Matosinhos é, segundo a Directiva Seveso II, a autarquia do Norte do país com o maior grau de perigosidade". com Cristina Freitas