Bo Xilai, a mulher, o mordomo e a maior crise na China desde 1989

Foto
Um polícia impede que se fotografe o quartel-general central do Partido Comunista Chinês, depois do afastamento de Bo Xilai MARK RALSTON/AFP

Um dos políticos mais populares da China, e até há pouco tempo candidato a integrar o grupo de nove homens que decide o futuro do país, foi afastado do partido, e a sua mulher é agora suspeita de homicídio

Um escândalo "quase sem precedentes na história política da China" ou "a maior crise que o partido no Governo enfrenta desde o massacre na Praça Tiananmen, em 1989". Os media internacionais como a BBC e o Financial Times não poupam nas palavras para descrever o afastamento do Partido Comunista de Bo Xilai, um dos políticos mais influentes da cúpula política do país, e a suspeita do envolvimento da sua mulher, Bogu Kailai, na morte do empresário britânico Neil Heywood, em Novembro do ano passado.

As duas notícias que, na prática, decretam a já anunciada morte política de Bo Xilai chegaram, em simultâneo, através da agência oficial Xinhua. Bo Xilai estava "suspenso" das suas actividades no Comité Central do Partido Comunista Chinês (PCC) e no Politburo - o segundo mais importante centro de decisões na China, constituído por apenas 25 membros - por ser considerado "suspeito de envolvimento em graves violações disciplinares". Precisamente à mesma hora - 23h44 -, era publicada uma outra notícia a dar conta da suspeita do envolvimento da mulher de Bo Xilai na morte de Neil Heywood, cujo caso parecia estar já encerrado, depois de as autoridades da província de Chongqing terem decretado a morte do empresário britânico por excesso de consumo de bebidas alcoólicas e de o seu corpo ter sido cremado.

Bo Xilai - um dos políticos mais populares do país e visto até há bem pouco tempo como um forte candidato à entrada, em Outubro próximo, na restrita comissão permanente do PCC, de que fazem parte apenas nove membros, entre os quais o Presidente Hu Jintao e o primeiro-ministro Wen Jiabao - foi afastado da liderança do secretariado do Partido Comunista em Chongqing no dia 14 de Março. Este afastamento é acompanhado das notícias que corriam no país sobre uma suposta reabertura da investigação à morte de Neil Heywood, que envolveria familiares de Bo Xilai.

Apesar de a pressão sobre a carreira política deste "príncipe" do regime comunista - filho de Bo Yobo, um histórico revolucionário - não ser um acontecimento recente, o caso que pode ser descrito como o início do fim tem data marcada: 6 de Fevereiro de 2012.

Foi nesse dia que Wang Lijung, o chefe da polícia de Chongqing que liderou no terreno uma dura política de combate ao crime organizado delineada por Bo Xilai - que, segundo o Financial Times, levou à detenção e à tortura de milhares de empresários, cujos bens eram depois entregues a empresas ligadas ao aparelho político da província e a organizações estatais - decidiu procurar refúgio no consulado norte-americano na cidade de Chengdu, com a intenção de pedir asilo político. Segundo Wang, a sua relação com Bo Xilai tinha chegado a um ponto que já o levava a temer pela sua vida.

"Alegações improváveis"

Mas Wang Lijung não entrou de mãos vazias no consulado: levava um conjunto de documentos que alegadamente provam o envolvimento da mulher de Bo Xilai, Bogu Kailai, na morte do empresário Neil Heywood por causa de "conflitos sobre interesses económicos". Depois da entrada em cena de Wang, as autoridades chinesas ficaram com "fortes suspeitas" de que Heywood fora envenenado por um empregado da família de Bo, a mando da mulher deste.

A relação entre Bo Xilai e Wang Lijung pode ter-se deteriorado por várias razões, mas o chefe da polícia de Chongqing não será propriamente uma das pessoas mais impressionáveis no que toca a histórias de violência.

Segundo fontes próximas da investigação à morte do empresário britânico citadas pelo Financial Times, os argumentos de Wang quanto ao fim da sua ligação a Bo Xilai são "altamente improváveis". Em primeiro lugar, porque Wang Lijung era o chefe de polícia de Bo Xilai aquando da morte de Neil Heywood e devia em grande parte ao então responsável pela província de Chongqing a sua posição no Partido Comunista; em segundo lugar, porque seria pouco provável que os agentes envolvidos na investigação aceitassem encobrir o envolvimento da mulher de Bo Xilai sem a participação de Wang.

Sugerir correcção