“O Homem Corvo” com fumo, água a ferver e detergente banal

Ana Bossa e Nuno Bouça juntaram peças e deram vida ao conto infantil de David Soares. O P3 falou com a dupla e descobriu uma série de efeitos especiais caseiros

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Ana Bossa DR
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“O Homem Corvo” é a prova de que digital e analógico podem coexistir de forma harmoniosa. O conto infantil, da autoria de David Soares — lançamento no dia 13 de Abril —, ergueu-se, no capítulo da ilustração, através de uma técnica singular, concebendo o processo criativo como um todo, desde “a pintura, a construção de cenários, o desenho de luz e o computador”, explica Ana Bossa.

Ana desenha, constrói e modela as personagens e cenários. Recorre a todos os materiais e mais alguns: papel, cartão, tecido, tintas ou lápis de cera e cerâmica, porque é através do barro que imprime “o cunho pessoal”, e, deste confronto entre técnicas, emergem “os detalhes mais peculiares do efeito visual do livro”.

A multiplicidade de elementos espelha a sua formação (Fotografia, Design, Arquitectura Paisagista e Cinema de Animação). “É como se todos esses caminhos tivessem sido percorridos para chegar à ilustração”, salienta a ilustradora de 33 anos (também responsável pelos trabalhos "João e o Pardalito de Bico Amarelo" e "Saudade, meu amor?").

Nuno Bouça, responsável pela fotografia, realça os “efeitos especiais caseiros”, como o fumo de incenso para “criar a atmosfera pretendida” ou o “lago de água a ferver na gruta do ‘Homem Corvo’”, no qual se utilizou “um detergente banal e muito fumo, soprado por uma palhinha para fazer bolhas”.

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Antes de pegar na objectiva e registar os ambientes criados, ainda houve tempo para o trabalho de iluminação, decisivo para bater certo com as palavras do autor. “A iluminação de “O Homem Corvo” resulta no jogo de altos contrastes e contra-luzes para potenciar um ambiente sombrio e misterioso nas primeiras imagens da história”, conta ao P3 o também realizador, de 35 anos.

Tudo em prol de uma estética única e inovadora, que exalta o tradicional e o analógico, já que esta é uma linguagem capaz de “transmitir emoções com outra eficácia”, afirma Ana Bossa.

Quem é este homem corvo?

Sem despir a narrativa da credulidade infantil, “O Homem Corvo” conta-se de uma forma mais dura e áspera, expressa quer no figurino textual, quer na ilustração. Respeita a “emotividade da criança”, mas “desliga-se com mestria das respostas na ponta da língua, levando o leitor a conhecer, usufruir e sentir, através das incursões de um personagem ladrão de lágrimas, que entra à noite no quarto dos meninos tristes”, revela Ana Bossa.

Na franja entre o fantástico e o burlesco, surge um vilão, “habitante soturno da noite”, que, na solidão do lar — “uma gruta funda no interior da floresta” —, suspira por ter um coração.

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