Naquela sequência inicial que é uma bela entrada no filme (a silhueta da ilha do Corvo a aparecer no meio do nada, como uma espécie de... Brigadoon), a voz off de Gonçalo Tocha anuncia ao que vem: filmar tudo, estar em todo o lado ao mesmo tempo. Pena que o filme não esteja completamente à altura da ubiquidade deste seu propósito - questão de montagem, talvez (e certamente de “organização”), mais “cumulativa” do que “amalgamadora”, porventura demasiado presa a uma convenção do “documentário de lugar” e respectiva legibilidade. Mesmo que, importa frisá-lo, o filme não se reduza a isso: há momentos espantosos, como os há assim assim, e como há alguns aspectos que parecem francamente mal conseguidos (quase tudo o que tem a ver com a “falsa naiveté”, construída, que passa sobretudo nos diálogos “off” entre Tocha e o seu colaborador). Em “Balaou”, o filme anterior de Tocha, mistura de diário íntimo e caderno de bordo, havia uma intensidade que parecia menos calculada, mais instintiva: as ondas a matraquearem as vigias do veleiro, em planos que duravam e duravam, em rima para a litania dorida da voz “off” - o fôlego é outro em É na Terra... mas sentimos a falta deste tipo de, chamemos-lhe, “irregularidade”.
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