Queremos mais ALTO!

A banda barcelense lançou o primeiro álbum homónimo em Fevereiro e, desde aí, tem andado nas bocas do mundo. Para ver este sábado, em Guimarães, na maratona XX Vinte 20

Artwork do álbum por Anoik DR
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Liliana Pinho
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Liliana Pinho

A viagem de ALTO! começa em Paris, passa de comboio em Praga e acaba em Cracóvia, mas não sem antes dar um pulinho ao Porto. Na Invicta, João Pimenta deslumbrou-se com a Rua da Picaria, entre o café Candelabro e um restaurante turco.

Mas mais deslumbrante do que a rua era a mulher que lá vivia, com quem teve "histórias bonitas e feias" que culminaram num som em que não são necessárias palavras. "Picaria é o que alguém poderia ouvir na varanda de casa a fumar um cigarro, com um teclado a ser tocado no quarto ao lado", explica João.

"Rua da Picaria" é a nona faixa do novo álbum da banda barcelense ALTO!, formada por elementos dos Black Bombaim e Green Machine: João Pimenta (voz), Bruno Costa (guitarra/voz), Ricardo Miranda (guitarra/teclados), Tiago Silva (baixo/voz) e Paulo Senra (bateria). Mas apesar de ser a única música instrumental, não é a única que conta uma história. O álbum homónimo do grupo formado em 2008 é composto por dez músicas referentes a cidades europeias distintas, que contam histórias da vida e das viagens do vocalista João Pimenta, no alto dos seus 20 anos.

João e o chuveiro

Passados dez anos, Tiago Silva e João Pimenta — um aluno e outro ex-aluno de História na Faculdade de Letras da Universidade do Porto — falam do álbum que demorou três anos a nascer mas que já é o menino dos seus olhos.

O sonho de tocar em Paredes de Coura

Editado pela Lovers & Lollypops, ALTO! "está a ser muito bem recebido", diz João. "Chalk Farm", a energética história de Londres é a faixa de eleição de Tiago, enquanto João prefere a psicadélica "Garaplina", que pode ser uma rampa de lançamento para um futuro diferente.

A gravação de Rua da Picaria

O que ninguém sabe é que além deste álbum ter sido feito em três dias e não ter qualquer pós-produção, a voz de João percorreu os Estúdios Sá da Bandeira de alto a baixo — desde o vão da escada ao chuveiro. Sim, o chuveiro. João, por exemplo, sentia-se "muito mais à vontade" a gravar na casa-de-banho e com os pés cheios de gel de banho. "Podia sair um som engraçado", conta. É esta a personalidade dos ALTO! — a loucura e o improviso — que tanto os caracteriza ao vivo. Para ver com os próprios olhos este sábado na maratona XX 20 Vinte, que junta 20 bandas, 20 DJ e cartazes de 20 ilustradores no Instituto de Design, em Guimarães.

João conta o processo de gravar no chuveiro

ALTO! são "90% de trabalho e 10% de inspiração"

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O vocalista João Pimenta e o baixista Tiago Silva na Rua da Picaria, no Porto Liliana Pinho

Os ALTO! começaram no "bunker", o nome carinhoso a que dão à garagem com dez metros quadrados forrada a esferovite, debaixo de um café de Barcelos. Agora é o estúdio por excelência, "o epicentro da cena de Barcelos", conta João. Com um EP na bagagem, "See you in Hell, Ron" — em homenagem ao Ron Asheton, dos The Stooges — partiram em 2009 para uma digressão em Espanha que se tornou numa autêntica aventura.

"Em Rayen, tocámos para quatro ou cinco pessoas e duas delas eram os gajos do bar", recorda Tiago. "Aí tens mesmo de dar o melhor concerto de sempre, até porque se essas pessoas forem embora, ficas a tocar para quem? Mas demos um concerto do caraças, as quatro pessoas compraram quatro CD e foi um momento muito importante para a carreira dos ALTO!", diz João.

Foi de Espanha que trouxeram, também, o segundo EP: "Computer Says No!", que foi todo gravado em analógico, no Circo Perrotti em Gijón, com material de 1967. "O tipo é mesmo um purista, lá não entra nada digital. Gravámos com um microfone de bateria que o Ringo Star usou em dois discos dos Beattles", conta Tiago. Desde aí é concertos frequentes e cozinhar na estrada. "Nós costumamos cozinhar em sítios cénicos. Levamos um 'camping gaz' e aqui o Tiago é o chefe", conta João. E a ementa vai da bolonhesa ao arroz solto, seja no Castelo Medieval de Penafiel ou no Cromeleque dos Almendres, em Évora.

Quanto ao público português, os dois músicos não têm dúvidas: é muito mais exigente com as bandas nacionais. "É preciso seres três ou quatro vezes melhor do que uma banda estrangeira para que o público português diga: 'Ah, isto nem parece português!' Quando dizem isto quer dizer que acabaram de aceitar a banda como uma banda boa", explica João. Diz ainda que se os ALTO! fossem de Lisboa, tinham tido muito mais oportunidades até agora, mas é no norte que estão os palcos de sonho. Entre os festivais, elegem o Paredes de Coura; em salas fechadas, a escolha recai, sem dúvida, no Hard Club, onde contam chegar já este ano.

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