Merah morreu e a França regressa à campanha eleitoral
O cerco durou 32 horas, Merah, de 23 anos, atirou-se da janela da casa de banho com uma arma na mão e morreu com um tiro na cabeça, segundo o Ministério do Interior. O suspeito pelos ataques na região de Toulouse foi alvo de uma operação “de rara violência” que começou na quarta-feira à tarde e terminou sem que a polícia tenha conseguido capturá-lo vivo.
Nicolas Sarkozy disse tratar-se de um momento particular. “No mesmo dia devo ser Presidente da República e garante da unidade da nação. E ao mesmo tempo candidato”. A campanha para as presidenciais de 29 de Abril tinha sido interrompida após os ataques em que foram mortos três militares, na semana passada, e três crianças e um professor de uma escola judaica em Toulouse, já nesta segunda-feira. Está ainda por saber-se como é que os atentados e a operação em que morreu Mohammed Merah irão influenciar as eleições.
O Presidente e candidato começou por falar de unidade e sublinhar que “os compatriotas muçulmanos não têm nada a ver com as motivações loucas de um terrorista”. E adiantou: “Antes de ter como alvo crianças judias, o atirador disparou contra muçulmanos”. Ao referir-se a Merah considerou-o “um monstro” e “fanático”, e defendeu também novas medidas para combater o extremismo.
Entre as suas propostas está a punição de quem consulte sites na Internet que “defendam o terrorismo ou apelem ao ódio e à violência”. Ou penas para quem viaje até ao estrangeiro para “doutrinação em ideologias ligadas ao terrorismo”. Houve quem pusesse em causa a constitucionalidade destas ideias. Os Repórteres sem Fronteiras, por exemplo, manifestaram preocupação com a possibilidade de se poder criminalizar a consulta de um site na Internet. Mas Sarkozy defendeu a ideia ao dizer que “a propagação e apologia de ideologias extremistas deve ser reprimida como um delito que conste no código penal, com os meios que são os da luta contra o terrorismo”.
Entre a comunidade muçulmana houve reacções a manifestar receios com a “instrumentalização” deste caso ou a estigmatização dos muçulmanos, depois de ter sido divulgado que Mohammed Merah tem ascendência magrebina, sublinhou o Le Monde. Algumas organizações, como o Colectivo contra a Islamofobia, apelaram para que a campanha não caia numa “histeria islamofóbica”.
Os ataques de Toulouse e a operação desta quinta-feira estão a influenciar a campanha e os primeiros indícios apontam para que Sarkozy seja o principal beneficiado. As sondagens têm colocado o Presidente e candidato atrás do rival socialista, François Hollande, mas essa desvantagem estará a diminuir e, numa sondagem do instituto BVA feita durante a operação policial, Hollande conta com 29,5% das intenções de voto e Sarkozy com 28, uma diferença inferior aos 5 pontos percentuais verificados no mês passado.
Numa outra sondagem CSA, divulgada ontem e realizada a 19 e 20 de Março, Sarkozy lidera as intenções de voto com 30% numa primeira volta, seguido do socialista François Hollande, com 28%.
Merah estava numa lista do FBIEntretanto têm sido divulgadas novas informações sobre Mohammed Merah. O Wall Street Journal referiu que estava numa lista do FBI e proibido de viajar para os Estados Unidos, enquanto o L’Express adiantou que esteve 15 dias num hospital psiquiátrico em 2008, após uma tentativa de suicídio.
O suspeito dos atentados em Toulouse estava também referenciado pelos serviços de informação franceses, o que leva a questionar como foi possível ter conseguido planear estes ataques. “Como foi que um homem conhecido dos serviços e da polícia pôde agir assim?” perguntou Abel Chennouf, o pai de um dos militares que morreram, citado pela AFP.
Os atentados de Toulouse foram reivindicados por uma organização ligada à Al-Qaeda, segundo a agência francesa. Foi colocado no site islamista Shamekh, que habitualmente divulga comunicados da Al-Qaeda, um comunicado assinado pelo grupo Soldados do Califado a reivindicar os ataques, mas este acabou por ser retirado porco depois e o centro norte-americano de observação de sites islamistas SITES adiantou não ter qualquer prova sobre a veracidade da reivindicação.
O próprio Merah disse aos negociadores que agiu em nome da Al-Qaeda, ainda que inicialmente tenha sido referido como um “lobo solitário” que actuara sozinho. Acabou por atirar-se da janela do apartamento depois de ter disparado contra os polícias. O ministro do Interior francês, Claude Guéant, confirmou que foi morto com um tiro na cabeça disparado naquele momento.
Guéant adiantou ainda que a operação foi marcada por uma violência rara e que um polícia experiente confessou-lhe “nunca ter visto nada assim”.
Quando os polícias chegaram à casa de banho Merah começou a disparar “com uma extrema ferocidade”, contou o Ministro do Interior. Os polícias dispararam de volta, pelo menos dois ficaram feridos. “Os atiradores que estavam do outro lado tentaram neutralizá-lo. No fim, Mohammed Merah saltou de uma janela, de arma na mão, e continuou a disparar. Foi encontrado morto no chão.”
O procurador François Molins confirmou após a operação que Merah vestia um colete à prova de bala, e que dentro do apartamento havia, pelo menos, materiais para fazer cocktails Molotov.