Sendo um apreciador de drogas recreativas "per se", nunca me passou pela cabeça vir a gostar de Red Bull. Sou contra tudo o que sirva para tornar o ser humano mais produtivo do que a sua vontade, e a latinha prateada é claramente uma "office drug", associada a "brainstormings" em escritórios de "marketing" em busca de ideias para vender gel de cabelo ou, algo ainda mais inútil, perfumes.
Mas no ano da minha chegada à Arábia Saudita, em que tudo o que não fosse legal dava direito a chicotadas e deportação, foi rápida a aclimatação ao sucedâneo da bebida tailandesa Krating Daeng, criada por Chaleo Yoovidhya, falecido no passado dia 17, a Red Bull.
Havia um projecto que tinha começado como um pequeno hotel privado para receber alguns presidentes amigos do povo saudita, ao lado do Centro de Conferências Internacional do Rei Abdulahzizz, e, de repente, uma visita do seu filho tinha-o multiplicado por 18 o custo e por 100 a complexidade - e a equipa para determinar o futuro desse imóvel era exactamente a mesma!
Bónus astronómicos foram prometidos, viagens por todo o mundo foram realizadas, reuniões de oito, 10 ou mesmo 14 horas tiveram lugar e a Red Bull acabou como a única bebida autorizada em todos esses momentos. O café dá cabo do esmalte dos dentes, o chá provoca problemas de intestino por ser bebido demasiado quente, o tabaco criava nuvens tão densas que nos faziam lacrimejar nas salas de reuniões (na Arábia Saudita ainda se podia fumar na altura, desde aí as coisas têm mudado bastante) e foi aí que me tornei um verdadeiro fã da bebida, cujo fundador agora nos deixou.
Às vezes, dava por mim com a cabeça a explodir de dados relativos ao projecto e a ter palpitações ao fim do dia, depois de ter bebido cinco ou seis latinhas. Mais do que uma vez vi pessoas a tentarem agredir-se, atirando latas umas às outras, e passando mesmo a vias de facto, quando ninguém podia ir à casa até que este ou aquele aspecto do plano de trabalho estivesse acertado com o plano de custos.
Foram tempos de guerra pura. E, para o fim, já nem o Red Bull nos chegava: era misturado com cápsulas de cafeína e com medicamentos de princípios activos estimulantes, como a Vinpocetina, enquanto as úlceras gástricas que iam surgindo aos membros mais velhos da equipa eram adiadas com Papaverina. Uma verdadeira farmacopeia naqueles tempos idos de 2006 e 2007.
Uma equipa de oito pessoas realizou o controlo de projecto de uma obra que teria dado trabalho a vários gabinetes dessa dimensão pelos manuais de melhores práticas. E é, por isso, que ainda hoje o stress na minha vida é avaliado pela necessidade de tomar Red Bull.
Mais do que isso: quando vejo alguém diante de uma tarefa, aparentemente simples, com a latinha de banda azul à frente, esse colaborador desce, imediatamente, na minha consideração. Porque se, para algo simples, já tem de meter aquele combustível pesado, então onde terá de ir buscar energia para algo urgente e que tem de ser feito sob pressão? De qualquer maneira, os meus agradecimentos ao senhor Chaleo.