França à caça do serial killer que mata crianças judias e militares magrebinos

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O atentado na escola judaica ocorreu pelas 8h locais, quando os pais chegam com as crianças REMY GABALDA/AFP

Não se sabe qual a sua motivação, mas após o ataque à escola judaica Ozar Hatorah, Toulouse viu-se inundada pela polícia, e as forças antiterrorismo foram activadas. A campanha eleitoral foi suspensa

Há um assassino em série em França que tem como alvos judeus e árabes? Pode ser um terrorista muçulmano ou de extrema-direita? A caça ao homem foi declarada em França, após o atentado à escola judaica Ozar Hatorah de Toulouse, ontem, em que morreram três crianças, de três, seis e dez anos, e um professor de religião de 30 anos.

O mundo ficou chocado com o que o primeiro-ministro de Israel classificou como "o assassínio odioso de judeus". Mas a história pode ter outros contornos, embora duas sinagogas de Paris tenham recebido também cartas com ameaças.

Exames balísticos identificaram a arma do crime como sendo de calibre 11,43 milímetros. Só foram feitos três milhões de unidades destas armas. Em França, as tropas da Indochina usavam-nas, bem como as da Argélia, disse ao jornal Le Figaro Benoît Ebel, especialista em armas do sindicato de polícia Synergie. Hoje, interessa apenas a coleccionadores e atiradores desportivos.

Não é, portanto, uma arma vulgar, e foi a usada ontem e também no assassínio de um militar de origem magrebina em Toulouse, a 11 de Março, e no ataque a três outros militares em Montauban, uma cidade próxima do sudoeste de França, quatro dias depois. Dois dos militares do segundo ataque, também de origem magrebina, morreram. Um terceiro, natural das Antilhas francesas, ficou gravemente ferido.

O atacante usou também sempre a mesma scooter, uma Yamaha T-MAX roubada, com matrícula de Toulouse, para fugir do local dos assassínios. Os elos de ligações entre os crimes - cometidos sempre com quatro dias de intervalo - são sugestivos.

Na ausência de pistas sobre a motivação destes homicídios, é fácil também ver neles uma motivação racista - anti-semita, antiemigração ou anti- -islâmica, devido à identidade das vítimas. O Presidente Nicolas Sarkozy afirmou ontem na televisão que, apesar de não se conhecerem os motivos do criminoso, "ao atacar crianças e um professor judeus, a motivação anti-semita parece evidente".

Com o policiamento de Toulouse reforçado, a estratégia é mesmo "afogar a cidade" em polícias, diz o Le Figaro, a investigação dos três assassínios foi confiada ao tribunal antiterrorismo de Paris.

Segundo a AFP, a hipótese "terrorismo interno" é a mais consistente. Mas a mesma agência noticiosa cita responsáveis policiais que indicam que as linhas de investigação privilegiadas são a possibilidade de se tratar de ataques ligados a "extremistas muçulmanos ou da ultradireita". Até porque o regimento de pára-quedistas a que pertenciam os três militares atacados em Montauban expulsou em 2008 alguns "irmãos de armas" com ligações a grupos neonazis, diz a revista Le Point.

Mas não se sabe, verdadeiramente, com quem se está a lidar. Os psiquiatras e profilers da polícia francesa debatem-se para criar um perfil do assassino. Será um serial killer ou um assassino de massas, que "se vê com uma missão sagrada a cumprir?", interrogava o psiquiatra Pierre Lamothe, perito forense, citado pelo Figaro. "Não se pode negligenciar a agitação interna de um indivíduo animado pelo desejo de matar por uma causa", sublinha.

"Pode-se pensar num homem agindo sozinho que não é doente mental mas segue uma lógica abstracta, sinal de um carácter paranóico. Ataca pessoas que para ele não significam nada. Neste caso de terrorismo limitado a um único indivíduo, o assassino torna-se o instrumento da sua própria convicção, o teórico do seu acto. Aproxima-se do assassino de massas, que tem convicções vagas mas absolutas. Um perfil feito à imagem de Anders Breivik, o assassino da Noruega", diz o psiquiatra Roland Coutanceau, no mesmo jornal.

Nicolas Sarkozy, que suspendeu a sua campanha para as eleições presidenciais de 22 de Abril até amanhã, anunciou que foi elevado o nível de alerta na cidade de Toulouse de vermelho para escarlate, o mais elevado, que pela primeira vez foi activado em França. "É uma tragédia. Todos os meios serão usados para prender este criminoso", garantiu.

Todos os restantes políticos suspenderam a campanha. François Hollande, o candidato socialista, que é dado como favorito, apelou a "uma resposta comum e firme de toda a República".

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