"Deep web": quando o Google já não é suficiente, temos de mergulhar na rede invisível
Há na Internet um mundo paralelo onde mora toda a informação inacessível aos motores de pesquisa comuns. Aquilo que existe à superfície equivale, segundo especialistas, a cerca de 4% do todo que a "web" tem para oferecer
A "deep web", ou "invisible net", representa aquilo que se esconde por detrás dos milhões de dados que a "Internet visível" nos apresenta diariamente, através de motores de pesquisa como o Google ou Yahoo, por exemplo. Na realidade, aquilo que existe à superfície equivale, segundo especialistas, a cerca de 4% do todo que a "web" tem para oferecer.
"A 'deep web' é muito maior que a 'web' encontrada à superfície. Estima-se que seja umas centenas de vezes maior", diz Sérgio Nunes, investigador na área de sistemas de informação.
Para quem já ouviu falar do assunto, talvez exista a ideia de um mundo paralelo. Mas a verdade é que a "deep web" é apenas uma designação para "tudo o que está inacessível aos motores de pesquisa comuns", completa Sérgio Nunes. Motores de busca como o Google não conseguem aceder a determinados sites "escondidos", que apenas podem ser encontrados se conhecermos o endereço exacto, através da devida autorização.
Deep web ou dark web?
A "deep web" não deve ser confundida, contudo, com o que se designa por "dark web". Esta inclui uma série de sites mais perigosos do que tudo o que encontramos diariamente na Internet. Traficar droga, contratar assassinos, assistir a lutas até à morte, trocar opiniões com pedófilos, aqui tudo é possível. No entanto, os dois conceitos são bastante distintos.
"A 'dark web' reside algures na 'deep web', mas os dois termos não devem ser confundidos", defende Eduarda Mendes Rodrigues, do departamento de Engenharia Informática da Faculdade de Engenharia da UP (FEUP).
Na realidade, qualquer pessoa pode utilizar a "deep web" diariamente. "Nós utilizamos a 'deep web' quando acedemos, por exemplo, ao Sigarra [página da Universidade do Porto] e fazemos uma pesquisa de alunos. Encontramos os alunos que estão na base de dados, mas através de uma busca no Google não chegamos lá", assegura Sérgio Nunes.
O que está disponível?
Alguns motores de busca como o Infomine já utilizam uma pesquisa específica para determinados assuntos, ao que podemos chamar de sistema de pesquisa vertical.
"São motores de busca especializados num determinado tipo de conteúdos", explica Eduarda Rodrigues. O Google pode ser considerado, neste contexto, um sistema horizontal.
Muitas universidades de renome e instituições de pesquisa científica partilham as suas informações em sites próprios na "deep web". Existe também uma "comunidade de investigadores e entusiastas que precisam de fazer uma partilha segura de informação fora da 'web' normal", atesta Eduarda Rodrigues.
Algumas instituições disponibilizam enciclopédias sobre os mais variados assuntos, com informação cerca de mil vezes mais aprofundada do que a disponível na Internet que utilizamos diariamente.
Uma revolução na Internet?
O aperfeiçoamento dos sistemas de pesquisa verticais já permite ir buscar determinadas informações que de outra forma permaneceriam perdidas na "deep web". Mas existe ainda um longo caminho a percorrer na descoberta do que está para além da Internet visível.
Eduarda Rodrigues afirma que para muita gente "o Google já não é suficiente". O aumento da procura de informação específica pode significar um maior investimento nesta área, embora ainda esteja longe um concorrente do Google.
Como defende Sérgio Nunes, dificilmente estes sistemas poderão vir a concorrer com o Google enquanto "motor de referência". O docente da FEUP certifica que "existem já motores que são muito mais utilizados em determinados contextos de pesquisa específica, mas para a população em geral o Google é a melhor opção e mais que suficiente".