A Baixa-House é "um exemplo de boas práticas" e Prémio Vilalva
Cinco pisos num prédio do início do século XIX na Rua dos Fanqueiros, em Lisboa: o arquitecto José Adrião optou por manter traços das intervenções anteriores, de várias décadas
O júri declarou-o unanimemente como "um exemplo de boas práticas numa zona em que a reabilitação urbana é especialmente sensível". Em causa "o modo como conseguiu uma expressão actual, respeitando o património edificado, a sua natureza urbana e arquitectónica".
O arquitecto José Adrião (n. 1965) tornou-se anteontem vencedor do Prémio Vilalva (50 mil euros), criado em 2007 pela Fundação Calouste Gulbenkian, com a intervenção do seu atelier - José Adrião Arquitectos - num edifício pombalino da Baixa lisboeta, a Baixa-House.
O prémio reporta-se a 2011 e distingue, todos os anos, obras exemplares de recuperação e valorização do património não apenas arquitectónico. Entre os muitos candidatos estava, por exemplo, "um trabalho magnífico" de recuperação de uma primeira edição de Os Lusíadas. Mas, como reforça o arquitecto José Pedro Martins Barata, membro do júri, no Prémio Vasco Vilalva "as boas práticas são mais importantes do que os resultados". E para o júri, composto ainda pela historiadora Dalila Rodrigues, o professor do Instituto Superior Técnico António Lamas e o historiador de arte José Sarmento de Matos.
A obra, no valor de 950 mil euros, começou em 2010 e terminou um ano depois. A ideia é muito anterior e nasceu do encontro entre um arquitecto paisagista de Madrid, Jesus Moraime (n. 1971), e José Adrião, natural de Lisboa, por que Moraime se apaixonou.
"Adoro a arquitectura clássica portuguesa", diz Moraime, que conta como, em 2007, surgiu a oportunidade de investir em património. Podia ser Berlim ou Lisboa, escolheu Lisboa porque adora a sua topografia, com as colinas a desembocar no rio, mas também porque foi na capital portuguesa que encontrou a oportunidade de reabilitar património.
"Aqui há muito património a degradar-se. Vê-se muito capital investido em Cascais e Estoril, mas muito pouco em Lisboa." E deixa uma mensagem: "Espero que este prémio leve as pessoas a investir no património antigo da cidade."
Tempos diferentes
De 2007 a 2011, quando, em Fevereiro, a obra da Baixa-House ficou concluída, muitas coisas aconteceram. E o projecto só avançou porque foi aprovado o plano de revitalização da Baixa. Antes disso, só era possível fazer obras de restauro. Este projecto exigia mudar cozinhas, instalações privadas, introduzir um elevador e mudar a tipologia, passando cada piso a ter três apartamentos, em vez dos dois originais. Avançou pois em 2010.
O foco dos 15 elementos da equipa manteve-se num objectivo central, explica José Adrião: "Assumir todos os tempos diferentes do edifício, todas as alterações que teve ao longo dos 200 anos desde a construção no início do século XIX." A entrada do prédio resulta de uma intervenção dos anos 40, mas os azulejos, na caixa de escadas, são do fim do século XIX, exemplifica.
"Há muitos tempos ali e a nossa intervenção não será com certeza a última", nota. "Íamos fazer uma intervenção contemporânea, mas que mantivesse as outras para trás." E o importante era recuperar, mas não com a ideia de voltar ao original.