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Florbela

Diríamos que “Florbela” revive, de outra maneira, o drama da primeira longa-metragem de Vicente Alves do Ó, "Quinze Pontos na Alma": o desejo de habitar “modelos” pouco explorados no cinema português, filiados nas grandes tradições do cinema popular (o barroquismo glacial do melodrama hitchcockiano por excelência, "Vertigo", em Quinze Pontos, a intensidade sanguínea do melodrama europeu, viscontiano por exemplo, agora em "Florbela"), desejo tão nobre como qualquer outro mas que os filmes são incapazes de potenciar. Ficamos perante um conjunto de “sinais”, que nos dizem qual é a intenção (e por exemplo, perante o movimento, quase dançado, de certos planos de Florbela e do marido, de Florbela e do irmão, ou dos três, é evidente o sinal de um desejo de “musicalidade”), mas o que se vê no ecrã é o enorme intervalo entre a intenção e o resultado concreto da sua manifestação. O drama é este.

“Drama”, sobretudo, porque não deve haver em Alves do Ó um grama de oportunismo, e pelo contrário tudo, em Florbela, como nos Pontos, parece respirar sinceridade. Mas também o reverso dessa medalha, uma espécie de ingenuidade, como se houvesse aqui a crença (naive, no sentido neutro do termo) de que por retomar as convenções do melodrama se faz reviver, por efeito automático, a tradição melodramática. Não faz: fica só como que um esgar, para mais consideravelmente poluído pela linguagem televisiva, essa “entidade” que mais do que qualquer outra cristalizou e banalizou as formas e convenções clássicas. Num filme que exibe um tão grande desejo de “ser cinema”, esta é não é por certo a menos dramática contradição: que tudo, finalmente, pareça tão insípido, tão indistinto, como a mais vulgar série de televisão.

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