Quando viu a fotografia que o amigo e fotojornalista José Bacelar tinha tirado na romaria de São Bartolomeu do Mar, em Esposende (ver na coluna da esquerda), Pedro Neves decidiu que queria ir atrás daquela imagem. Estávamos no Verão de 2010 e Pedro tinha em mãos um projecto - que está ainda a ser concretizado - de fazer um documentário sobre a costa portuguesa.
Filmar a romaria de São Bartolomeu do Mar tinha como objectivo fazer uma cena para o documentário sobre a costa portuguesa. Mas meses depois das filmagens, quando decidiu começar a edição, o jornalista e realizador gostou do resultado. Decidiu, então, escrever um texto para as imagens e percebeu que o que tinha à frente dava uma “curta documental que podia viver por ela própria”.
Água Fria não é uma curta-metragem sobre a romaria de São Bartolomeu do Mar, são quase 14 minutos de uma reflexão sobre o ser português ou, pelo menos, “sobre um certo modo de ser português”. E essa portugalidade, intrínseca no filme, não fazia Pedro Neves prever o sucesso internacional que a curta tem tido.
“De facto, este filme só podia ter sido feito aqui, não podia ter sido feito em mais lado nenhum. Se calhar, não sei se por causa da nossa condição actual, começa a haver mais interesse em saber o que é que afinal se passa aqui e que sonhos é que ainda temos”, analisa.
Percurso internacional
No fim do mês de Janeiro a curta foi seleccionada para Clermont-Ferrand, em França, considerado o mais importante Festival Internacional de Curta Metragens do mundo. Mas não só: passou por Vila do Conde (foi lá que estreou), pelo DocLisboa, pelo Festival de curtas de Belo Horizonte, no Brasil. Em breve estará no Festival Internacional de Guadalajara, no México, no Festival Regards Sur Le Court Métrage, no Quebec, no Canadá, no Mecal, Festival de Curtas de Barcelona. E há já mais sítios pensados.
A curta-metragem Água Fria, produzida pela Red Desert, é uma “reflexão pessoal” de Pedro Neves, um filme “sobre desilusões, sobre memórias, sobre sensações”. O povo português é um povo sofrido: “Esperamos muito e ousamos sonhar pouco”, analisa. Às vezes, é certo, por “condicionantes externas”, outras “resignamo-nos muito a isso”.
É uma postura que o realizador e jornalista vê até no actual momento do país: “Vemos uma quantidade infindável de protestos por todo o lado e nós não, nós achamos que tem que ser assim, vamos esperar que as coisas aconteçam e qua alguém resolva as coisas por nós”.