Hope Solo: a sex symbol que quer “ser a melhor guarda-redes do mundo”

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Hope Solo tem 30 anos Foto: AFP

Chega na pose descontraída de quem se prepara para aproveitar uma manhã de sol do Algarve. Descontraída, mas nem por isso descuidada. A aparência, de resto, contrasta com a roupa desportiva que tem vestida. Traz na mão uma chávena de café. Hope Amelia Solo, 30 anos, chegou a estudar Economia na faculdade mas apaixonou-se pelo futebol e pela baliza. É a guarda-redes titular e um dos rostos mais reconhecidos da selecção feminina dos EUA. Foi capa da respeitada Sports Illustrated, posou nua numa publicação da ESPN e participou no programa “Dança Comigo”. Em entrevista ao PÚBLICO dias antes do jogo contra o Japão (derrota por 0-1), deu conta dos três grandes objectivos que persegue na carreira: ser a melhor do mundo, vencer um Mundial e somar outra medalha de ouro nos Jogos Olímpicos deste ano. Assim permita o ombro direito, que continua a sofrer com as sequelas de uma operação em 2010.

Como está o seu ombro?

O cirurgião disse-me que nunca irei recuperar a amplitude de movimentos, por isso vou ter de aprender a jogar assim. Quando estico os braços há esta diferença [o direito fica alguns centímetros mais curto que o esquerdo].


Como faz para jogar?

Aprendi a gerir a dor. Não tem sido fácil. Há muitos anos que jogo ao mais alto nível, e agora tenho de mudar completamente a minha técnica.


Quais são as expectativas dos EUA para a Algarve Cup?

Estamos a preparar-nos para os Jogos Olímpicos e a observar algumas jovens jogadoras. O que se vai ver neste torneio não é necessariamente o que se vai ver em Londres. Temos vindo a concentrar-nos no ataque, e vê-se a diferença. Privilegiamos a posse de bola. Pela primeira vez temos verdadeiras jogadoras de futebol e não atletas.


São novidades introduzidas pela seleccionadora Pia Sundhage?

Sim, claro. Quando ela chegou à selecção [em 2008] reconheceu que precisava de mudar a nossa leitura do jogo. Antes queríamos ir para a frente e marcar golos. Avançar, avançar... Não havia paciência, nem fluidez no jogo.


Como começou a jogar futebol?

O meu pai foi o meu primeiro treinador, quando eu tinha uns cinco anos. Pratiquei outras modalidades, mas era melhor no futebol. Até à faculdade era avançada.


Por que se mudou para a baliza?

Não foi algo que eu tivesse escolhido. Um dia a nossa guarda-redes lesionou-se, eu fui à baliza e mostrei que era destemida. Há a noção generalizada que os guarda-redes são aqueles que não correm, que não são bons com a bola nos pés. Mas quando aprendi os detalhes da posição ganhei-lhe tanto respeito que decidi mudar esta noção. Os guarda-redes devem ser os mais atléticos e os melhores com a bola nos pés.


Há uma tradição americana na baliza. Nomes como Brad Friedel, Tim Howard e Kasey Keller...

Está a doer-me o ombro!


Quer interromper a entrevista?

Não, não.


Há uma relação especial dos americanos com a baliza?

Acredito num estilo americano de defender, parecido com o europeu. O meu estilo permite-me fazer menos defesas em voo. Não preciso de ir ao chão tantas vezes graças à minha velocidade, trabalho de pés e capacidade de deslocamento lateral. É importante a leitura do jogo, o posicionamento e a colocação das defesas no sítio certo.


Quão frustrante foi perder a final do Mundial em 2011?

Eu acreditava que esse era o Mundial em que o troféu ia voltar para os EUA. E tudo se começou a encaminhar nesse sentido, especialmente com a vitória nos quartos-de-final sobre o Brasil (2-2 após prolongamento e 5-3 nos penáltis). Na final, percebemos que o Japão estava a jogar por razões (tsunami e desastre nuclear em Fukushima) que iam além do jogo em si. E é difícil competir com isso. Respeito-as, foi uma vitória merecida.


Essa final foi épica. Os EUA estiveram duas vezes a ganhar e depois perderam nos penáltis.

Concordo. O facto é que cometemos dois erros defensivos que nos custaram o jogo. Mas o destino do Japão era ganhar, por razões maiores.


O futebol feminino tem maior visibilidade nos EUA após o Mundial 2011?

Sim, não só nos EUA. A modalidade está a crescer, há mais cobertura mediática. Embora o futebol feminino não seja igual ao masculino, também é um jogo bonito de ver. Somos olhadas como um exemplo.


A Hope tornou-se um símbolo, esteve na capa da Sports Illustrated. Como lida com esta maior atenção mediática?

Tudo o que fazemos é alvo de escrutínio. Mas o meu objectivo continua a ser ganhar o Mundial. Quero ganhar outra medalha de ouro nos Jogos Olímpicos. E quero ser a melhor guarda-redes do mundo. Concentro-me na minha carreira desportiva, e a atenção mediática não me distrai.


O que é que gostava de fazer no final da sua carreira? Tem algum projecto adiado?

Não estou preocupada com o meu futuro. Para já, estou em preparação para os Jogos Olímpicos. Depois haverá opções. Tive uma proposta para fazer um filme sobre a minha vida, focando mais o lado pessoal.


E está disposta a fazê-lo?

Houve uma altura em que não estava, mas temos conversado. Há oportunidades para mim, só não sei que direcção vou seguir.


Gostava de ser treinadora?

Eu gosto de treinar guarda-redes. Se fosse treinadora, seria tão boa na defesa que teria de contratar um bom adjunto para tratar do ataque.


Entre Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, quem prefere?

Messi. Simplesmente acho que é muito melhor. Para mim é óbvio.


O que faria para o travar?

Tinha de fazer falta! [risos]


Entrou no programa “Dança Comigo”. Como foi essa experiência?

Das mais bizarras que tive. Fui muito ingénua quando comecei. É um reality show, e eu não percebia algumas coisas. Tudo é encenado, podem passar de nós a imagem que quiserem. Foi muito diferente do que eu pensava. Mas fartei-me de trabalhar e aprendi a dançar em cerca de duas semanas. Foi esgotante, trabalhávamos umas sete horas por dia.


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