A vida no trampolim

Ana Rente e Nuno Merino garantiram a Portugal duas vagas na ginástica de trampolins dos Jogos Olímpicos de Londres

O prazer que retiram da ginástica de trampolins compensa as dificuldades que enfrentam e os sacrifícios a que Ana Rente e Nuno Merino são obrigados para continuarem na modalidade. Garantiram a Portugal duas vagas nos Jogos Olímpicos de Londres e querem chegar o mais longe possível.

“Uma pessoa anda a treinar quatro anos para os Jogos Olímpicos e tudo se resume a 20 segundos. Pronto, 40, porque são duas séries. É um bocado inglório e ingrato”, aponta Ana Rente. “É muito tempo aplicado a treinar, a abdicar de muita coisa, para depois chegar ali e em 40 segundos estar tudo acabado”, acrescenta a ginasta portuguesa.

Por isso, o objectivo em Londres é desfrutar ao máximo. Ana já participou nos Jogos de Pequim, em 2008, mas admite que na altura estava “muito verde”: “Nunca tinha estado num pavilhão tão cheio, acho que me perdi um bocadinho por estar tão fascinada com aquele mundo. Sinto que agora estou mais bem preparada, treinei mais”.

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Nuno Merino

Nuno Merino esteve em Atenas 2004, mas a sua presença em Londres ainda não é certa. Os Europeus de Abril vão decidir quem fica com o lugar nos Jogos deste ano — se Nuno, se Diogo Ganchinho, com quem costuma fazer dupla. “O grande objectivo está cumprido, que era ter lá um português. Se for eu o português a ir, sem dúvida que o objectivo será chegar à final”, indicou.

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Quando se treina mais salta-se melhor Joana Bourgard

O mais complicado será concorrer com adversários com um nível de preparação muito diferente. “Têm um sistema que lhes permite treinar a 100%. Nós temos um sistema que nos permite trabalhar ou estudar a 100%. Os treinos preenchem os furos que existem. Quando se treina mais salta-se melhor, sem dúvida”, aponta Nuno Merino.

Ele é piloto mas trabalha actualmente como “personal trainer” num ginásio e dá também treino num clube de trampolins em Mem Martins. Ana Rente está no quinto ano de Medicina. “Tenho de estar constantemente a estudar, a treinar, e quase não posso ter descanso porque não há tempo”, aponta a ginasta, que gostava de se especializar em Cirurgia.

Tanto Ana como Nuno começaram muitos novos na ginástica. Ana passou pela acrobática, mas não resistiu à sedução dos trampolins: “Ficava maravilhada, sempre a olhar para os miúdos a saltar. Quando era intervalo para beber água, eu ia para os trampolins saltar. Depois comecei a fazer ginástica acrobática ao mesmo tempo que os trampolins”, recorda.

“É uma modalidade com uma vertente de perfeição, porque temos de executar o salto o mais tecnicamente perfeito possível. Mas tem também a vertente de ser um desporto radical: estamos ali a saltar, a desafiar a gravidade. Sente-se adrenalina”, explica Ana Rente.

Há ainda a vertente mental, nota Nuno: “Já vi pessoas muito mal preparadas chegarem a competições e fazerem o seu melhor, porque mentalmente conseguiram gerir a situação para chegar àquele momento e fazer o melhor. E já vi pessoas muito bem preparadas chegarem à competição e falharem”. “Quando a competição não nos diz nada, o físico importa para nos dizer como estão os nossos automatismos musculares. Quando a competição é muito importante, o físico ajuda, mas não nos transforma”, conclui o ginasta português.

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