O jogo em que Wilt Chamberlain foi realmente imparável

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Chamberlain contribuiu para o primeiro título dos Lakers em L.A. WEN ROBERTS/AFP

Hoje cumpre-se o 50.º aniversário do dia em que marcou 100 pontos aos Knicks, o registo mais mítico do maior coleccionador de recordes da NBA

Alguns minutos depois de marcar 58 aos New York Knicks e bater um recorde no Madison Square Garden, Wilt Chamberlain foi questionado sobre qual seria o tecto de pontos na NBA. "Alguém marcar 100, talvez, mas não eu". Chamberlain estava errado. Cerca de um ano depois, a 2 de Março de 1962, há precisamente 50 anos, o lendário basquetebolista marcou uns redondos 100 pontos num triunfo sem prolongamento dos Philadelphia Warriors sobre os mesmos Knicks (169-147), naquela que continua a ser uma das performances mais incríveis da história do desporto.

O mais perto que alguém esteve desta marca foi Kobe Bryant, que marcou 81 aos Toronto Raptors em 2006. Mas até o extremo dos Lakers sabe que é praticamente impossível repetir muitos dos feitos do antigo poste. "Pelo amor de Deus! Ninguém pode fazer o que ele fez. São números de videojogos", afirmou, quando instado a comparar as suas proezas com Chamberlain, campeão pelos Lakers tal como Kobe.

Chamberlain, que morreu em 1999, aos 63 anos, devido a problemas cardíacos, ainda detém mais de 70 recordes da NBA, um número que seria ainda maior se os desarmes de lançamento já fossem contabilizados durante o período que durou a sua carreira ou se já houvesse divisão estatística entre ressaltos defensivos e ofensivos.

1961/62 foi uma época de recordes na NBA. Quase todos de Wilt Chamberlain - embora também tenha sido nessa temporada que Oscar Robertson terminou com médias de triplo-duplo (30,8 pontos, 11,4 assistências e 12,5 ressaltos por jogo), a única ocasião em que tal aconteceu. O antigo atleta, um colosso físico de 2,16 metros extremamente coordenado, que também se tinha destacado no atletismo, chegando a ser campeão de salto em altura da sua conferência universitária, marcou 50 ou mais pontos em 45 jogos, sete deles consecutivos, e mais de 40 ou mais pontos 63 vezes. Capaz de marcar e ressaltar quase como lhe apetecia, terminou com uma média de 50,36 pontos por jogo (o mínimo que somou num jogo foram 26).

A sua época foi coroada com uma exibição inesquecível na Arena de Hershey (Pensilvânia), onde os Warriors faziam alguns jogos para atrair adeptos. Numa altura em que não existia a linha de três pontos, Chamberlain anotou 23 pontos no primeiro período, chegou ao intervalo com 41, depois fez 28 no terceiro e mais 31 até ao fim do jogo. Nesses 48 minutos, bateu recordes de lançamentos de campo convertidos (36) e tentados (63), de lances livres marcados (28 em 32: muito bom para um famoso mau lançador da linha) e de pontos num período (31) e numa parte (59). Os últimos minutos do jogo, do qual não existe nenhuma gravação vídeo e apenas foi presenciado por 4124 espectadores, foram passados com as duas equipas a cometerem faltas: os Knicks aos colegas de Chamberlain, para evitarem que este pontuasse; os Warriors para recuperarem mais rapidamente a bola e passarem-na à sua estrela.

Chamberlain nem sempre teve orgulho nessa sua performance, pois achava que lançar 63 vezes não correspondia ao seu perfil de jogador, mas foi uma prova da sua superioridade. "Foi o jogador mais dominante da história deste desporto", considerou Dominique Wilkins, contemporâneo de Michael Jordan que chegou duas vezes aos 57 pontos.

Campeão duas vezes

Uma vez, na sua equipa de liceu, cujo treinador instruía os colegas de Chamberlain a falharem lances livres para este capturar o ressalto e marcar, apontou 90 pontos. Mais tarde, num jogo de uma liga amadora, chegou aos 113. A NBA chegou a mudar regras para atenuar a sua predominância, ao alargar o "garrafão" ou alterar os regulamentos para a marcação de lances livres (Chamberlain fazia uma corrida de balanço, saltava antes da linha e depositava a bola no cesto). E os adversários adoptaram a táctica de fazer faltas sobre ele frequentemente, porque tinha má percentagem nos lances livres. Ganhou apenas dois títulos, porque embateu muitas vezes nos maravilhosos Celtics liderados por Bill Russell, mas essas duas equipas campeãs são consideradas das melhores de sempre (Warriors em 1966/67 e os Lakers em 1971/72, que precisaram dele para finalmente ganharem o seu primeiro troféu em Los Angeles).

Depois de se retirar continuou muito activo - foi, por exemplo, jogador de voleibol profissional e entrou no filme Conan, o Destruidor. Larry Brown, treinador na NBA durante vários anos, lembra-se de um jogo em que participaram Magic Johnson, no seu auge, e outros jogadores no activo. Chamberlain, então a caminho dos 50 anos, não gostou de um par de faltas que Magic lhe atribuiu. "Não haverá mais lançamentos na passada neste ginásio", gritou Chamberlain. "E ele desarmou todos os lançamentos depois disso", recordou Brown. "É a verdade, eu vi! Não deixou nenhum dos lançamentos de Magic sequer atingir o aro".

Chamberlain era quase imparável. Dois dias depois do tal jogo dos 100 pontos, os Warriors jogaram novamente com os Knicks, em Nova Iorque. Darrall Imhoff, poste de New York, "limitou" Chamberlain a 58 pontos. Os adeptos fizeram-lhe uma ovação de pé.

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