O número de jovens empregados é, actualmente, "cerca de metade do que era há dez anos" e a percentagem da população jovem activa "nunca foi tão baixa". As conclusões são do estudo “Vida Adiada ou Vida Libertada?”, do Projecto C, que elegeu esta geração (18-28 anos) como tema central de investigação em 2011. No último trimestre do ano passado, a taxa de desemprego jovem situava-se nos 35,4%, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística.
O estudo, que trabalhou com um painel de 50 pessoas durante seis meses, partiu de uma premissa fundamental: o “aprofundar do 'gap' geracional” entre uma geração que tinha tudo garantido e que podia fazer planos e uma que vive na incerteza, sem projectos, sem capacidade de consumir e a adiar planos constantemente.
A entrada cada vez mais tardia no mercado de trabalho (em 2010 havia 427 mil pessoas com menos de 25 anos activas, há 20 anos eram 1010 mil) empurra esta geração para um constante adiar de planos: sair de casa dos pais (52,2%), comprar casa (45,9%) e carro (43%) são os projectos que mais ficam para segundo plano. Mas ter filhos (32,2%) também entra na lista.
Dois empregos: uma necessidade
O desejo de estabilidade é visível quando os jovens são questionados em relação ao grande sonho de vida que têm actualmente: 49,4% dizem que gostariam de ter um emprego. Os rendimentos baixos que auferem obrigam-nos a ter mais do que um emprego (22,7%) e para a faixa dos 18 aos 22 anos a mesada dos pais ainda é a grande fonte de rendimento (47,5%). Entre os 23 e os 28 anos o trabalho remunerado já é a principal origem das receitas. Ganham pouco, mas quase todos poupam alguma coisa, sobretudo para viajar.
As cinco definições com que mais identificam esta geração são as de consumista, tecnológica, acomodada, globalizada e distante da política. É uma geração relativamente dividida entre o optimismo e o pessimismo: enquanto 44,4% admitem estar num “mood negativo”, 31% recusam a etiqueta de geração à rasca que lhes colaram. A maioria (66,4%) sente que pode ajudar Portugal neste momento, sobretudo através do trabalho (31,9%) e no consumo de mais produtos portugueses (11,3%). É uma geração global que sente fazer parte dessa cultura, apesar de uma parte significativa (37,6%) dizer que emigrar é algo para o qual não está preparada.
Se os problemas que os rodeiam os preocupam? Uma parte significativa (32,4%) sente-se obrigada a fazer algo pelo colectivo no seu dia-a-dia e 31% dizem ter vontade de participar em projectos comunitários. Mais de metade (54,2%) faz ou já fez voluntariado, sendo que uma percentagem significativa (36,1%) escolhe movimentos e actividades ligadas à igreja para o fazer. Por outro lado, 22% acreditam que, “hoje em dia, temos de dar prioridade ao nosso futuro antes de pensar nos outros”.
Afinal, estamos perante uma geração solidária ou nem por isso? Paula Mateus, técnica responsável pelo estudo, responde: "É sobretudo uma geração consciente, que percebe bem os aspectos sociais que a rodeia. O que não significa que o voluntariado, por exemplo, tenha apenas o papel de ajuda. É uma experiência e todos sabem que fica bem no currículo. Tal como fazer Erasmus".
Houvesse uma máquina que fizesse "rewind" na vida destes jovens e quase todos (98,5%) mudariam alguma coisa nas opções que fizeram em relação aos estudos ou profissão. A mudança seria sobretudo na escolha do curso: 35,9% escolheriam um curso com mais saída profissional e 33,6% um curso que tivesse mais a ver com as suas preferências. Isto apesar de 73,4% se dizerem “satisfeitos” com as opções que tomaram.
Notícia corrigida em 29/02/12 às 11h38 No último parágrafo, a palavra "fast forward" foi substituída por "rewind".