Primeira fase de electrificação chegou à serra de Serpa para beneficiar montes e explorações agrícolas isoladas
Após quase 20 anos de avanços e recuos foi inaugurado pela ministra Assunção Cristas projecto que beneficia 260 famílias e custa cinco milhões de euros
Agora "é só carregar no botanito e temos cerveja fresca e televisão sempre que a gente queira", desabafava eufórico Vítor Martins, residente num monte isolado na serra de Serpa. A ministra da Agricultura, Assunção Cristas, e o presidente executivo da EDP, António Mexia, deslocaram-se ali ontem para inaugurar a electrificação de 60 montes e explorações isoladas.
A ministra provou presunto do "mais puro porco alentejano", uma fatia de queijo Serpa, produzido numa das queijarias perdidas por aquela serra imensa que se estende por cerca de 78 mil hectares, e um "bocadinho de panito [pão] alentejano". António Mexia olhou curioso para o candeeiro da sala onde decorria a degustação e realçou a preocupação dos residentes: as lâmpadas eram todas de baixo consumo. "Atão a gente começa a poupar logo que começa a ter luz", explicou Vítor Martins.
As cerca de 260 famílias, maioritariamente pessoas que se dedicam a diversas actividades no âmbito da exploração agrícola e pecuária, e que vivem na serra de Serpa esperaram quase 20 anos para colocar de parte o candeeiro a petróleo, o petromax ou o gerador para ter luz por três ou quatro horas. "Agora só nos falta a água canalizada", perorou o homem à ministra, numa tentativa de obter um compromisso que demorasse menos tempo do que a levar a luz ao monte. O recurso está na abertura de um furo e "depois puxam a água com um motor eléctrico", sugeriu António Mexia.
O projecto de electrificação da serra de Serpa tem programado um investimento de cinco milhões de euros, e é financiado em 99 por cento pelo Programa de Desenvolvimento Rural (Proder) para levar a electricidade aos montes e explorações agrícolas isoladas na serra de Serpa. O projecto foi concretizado através de uma parceria entre a EDP Distribuição e a Câmara Municipal de Serpa e contou com o apoio da Associação de Agricultores de Serpa.
A primeira fase do projecto, ontem inaugurada, terá a sua conclusão até ao final de 2012. A dispersão das habitações obrigou à instalação de 212 quilómetros de redes de baixa e média tensão e de 86 postos de transformação. É na serra de Serpa que se localizam várias queijarias onde é produzido o famoso queijo de Serpa. Algumas delas ainda funcionam 24 horas por dia, através de geradores, com um gasto de gasóleo que supera os cinco mil euros.
Jaime Braga, que fabrica este tipo de queijo, lembra que só em gasóleo gastava entre 200 a 250 litros por dia. "Candidatei-me em 1994 para ter electricidade no meu monte", recordou o produtor. Mostrou-se feliz "por ter vindo ainda no meu tempo de vida".
Agora é tudo diferente, mais económico, diz Luís Coelho, residente no monte Vale Covo. Até à chegada da luz eléctrica, vivia com a luz produzida por um gerador. "Quem ganhava era o gajo que vendia o gasóleo e o mecânico que arranjava o aparelho quando avariava". No seu caso, "eram só perdas".
A ministra Assunção Cristas, desejou a todos "muitas felicidades e que melhores dias venham". António Mexia espera que não haja muitos cortes de luz.