"A batalha pela Rússia ainda não está ganha", diz Putin perante uma multidão de apoiantes
Citou um poema patriótico, que apela à resistência perante a invasão estrangeira. As sondagens das presidenciais dão-lhe a vitória à primeira volta
Vladimir Putin dissera que não faria comícios, por não precisar. Mas ontem juntou 130 mil apoiantes num estádio para, na qualidade de candidato à presidência e num tom de guerra fria, dizer que não permitirá "ingerências" nos assuntos russos. "A batalha pela Rússia continua, a vitória será nossa."
Putin, que já foi Presidente e é o actual primeiro-ministro, vai à frente nas sondagens das presidenciais, apesar de ter perdido popularidade nos últimos anos; os números divulgados ontem dizem que vencerá à primeira volta, com 56,8% dos votos. Perdeu as graças de parte do povo - especificamente em Moscovo e em São Petersburgo - por não deixar o poder, pretendendo alternar os dois principais cargos do país (chefia do Estado e do Governo) entre si e Dmitri Medvedev.
"Hoje, somos nós que defendemos a pátria", disse aos apoiantes reunidos no Estádio Lujniki, em Moscovo. "Não deixaremos ninguém impor-nos a sua vontade", disse o candidato, muito combativo, lembrando que a História russa se fez de "suor e sangue". "Temos a nossa própria vontade. Somos uma nação vencedora. Está-nos nos genes".
O discurso patriótico teve um enquadramento. Ontem foi feriado na Rússia - assinalou-se o Dia dos Defensores da Pátria, uma data herdada da época soviética. Putin aproveitou-o para, a dez dias das presidenciais, que se realizam a 4 de Março, responder à oposição que se manifesta em Moscovo desde Dezembro, quando o partido de Putin, o Rússia Unida, ganhou as eleições legislativas. Houve fraude, disse a oposição.
O Presidente Medvedev vai reunir na segunda-feira com os líderes dos protestos, com quem falará do próximo processo eleitoral. O objectivo, diz a Reuters, é evitar novas contestações aos resultados e a anunciada campanha de desobediência civil caso sejam detectadas fraudes.
O Ocidente, com os Estados Unidos à cabeça, foram o alvo de Putin, embora nunca mencionados - por várias vezes o regime russo acusou os organizadores das manifestações de estarem a soldo do Ocidente.
Este comício-festa - até ao último momento os organizadores não confirmaram a presença de Putin, pelo que quando o candidato chegou a multidão festejou - serviu para defender que existe uma ameaça e que só a eleição de Putin garantirá a independência e a estabilidade do país.
A mensagem foi bem recebida por muitos assistentes. "Estou aqui para apoiar Putin porque desde que ele está [no poder] temos estabilidade e o estrangeiro respeita-nos", disse Magomed Tadjiev, de 21 anos. "Não vejo quem o poderá substituir, de momento Putin não tem oposição", acrescentou, citado pela AFP.
Um grande ecrã, descreve esta agência noticiosa, ia mostrando vídeos de Putin em campanha. E vários músicos subiram ao palco, adornado com grandes bandeiras russas.
Embalado, Putin citou o poema patriótico Borodino. Escrito no século XIX por Mikhail Lermontov, descreve a batalha de Borodino, durante a invasão napoleónica. Fala de resistência, de não deixar passar o inimigo, de morrer às portas de Moscovo, se for preciso. Foi o momento em que disse que a batalha continua. "Venceremos, venceremos", garantiu. A seguir, pediu aos russos para dizerem que amam a Rússia. Eles disseram.
O que foi o maior comício pró-Putin, destinado a restabelecer a sua imagem de líder agregador, não passou sem a sua pequena polémica. O correspondente da BBC, Steve Rosenberg, falou com dois trabalhadores ferroviários que lhe disseram estar ali porque o chefe os mandou; um estudante disse ter sido pago e que acreditava ir assistir a um concerto.