De dia é Rúben, à noite Daniel Mira. Este estudante de Psicologia, de 34 anos, descobriu a arte como forma de expressão. Quando acorda de manhã é Rúben, o artista plástico que encontrou nos desenhos e na pintura uma “forma de auto-análise”. “Vou sempre oscilando entre a cabeça artística e a cabeça analítica da Psicologia, não consigo funcionar de outra forma”, afirma ao P3.
À noite, quando segue para as aulas de Psicologia no ISPA, no Jardim do Tabaco, em Lisboa, é Daniel Mira, o nome de sempre, de outras andanças.
Alfacinha de gema – nasceu no coração do Chiado –, foi viver para Filadélfia quando ainda era criança. Depois de uma breve passagem por Toronto, regressou aos EUA, onde ficou até aos 16 anos. Agora vai voltar, para uma exposição em Los Angeles.
A primeira mostra, na galeria do ISPA, foi uma “surpresa”. E um sucesso: das 17 peças, 16 estão vendidas. Os preços variam entre os 50 e os 150 euros, consoante os tamanhos.
Admiração e fantasia
“Fiquei admirado por as pessoas terem aparecido e depois fiquei admirado por quererem comprar as peças”, admite Rúben. Uma delas vai directamente para Los Angeles, onde o jovem artista vai expor os seus trabalhos já em Julho. Alana Hadid, dona de uma galeria de arte em LA, estava em Lisboa em Dezembro e foi visitar a exposição no ISPA. Foi quanto bastou para que uma viagem a LA ficasse apalavrada.
“Para mim a grande fantasia é poder pintar durante o dia e estudar Psicologia à noite, a minha vida seria perfeita. É difícil pensar que é possível”, conta, ainda meio incrédulo com o que lhe está a acontecer.
Habituado a desenhar nas aulas ou no trânsito, está agora a trabalhar nas peças para levar para os EUA. “Can he do bigger”, perguntaram da galeria, onde gostam de quadros grandes, que lhes encham as medidas. É assim que Rúben acaba a pintar em papel de cenário, grandes superfícies que cobrem o espaço de uma parede.
“É muito diferente fazer em grande. Tudo é diferente, o domínio da superfície... quando passamos para uma folha enorme é intimidante”, diz. Dantes passava algumas horas à volta das peças, agora passam-se dias até que veja uma acabada. E a cabeça analítica que não o larga: “Detesto ver uma peça que não está acabada, tenho imensa ansiedade em começar a próxima porque já tenho uma nova ideia”.