Óscares: A estranha relação de Woody Allen com a Academia

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Woody Allen com Owen Wilson e Rachel McAdams na apresentação de "Meia-Noite em Paris" em Cannes AFP

A questão quase que todos os anos se repete, em especial quando os seus filmes estão nomeados, mas a resposta é sempre a mesma. Woody não se chateou com ninguém, não é nem um mal amado de Hollywood, a provar está o seu último filme “Meia-noite em Paris”, que antes de ser nomeado para quatro categorias aos Óscares, entre elas a de melhor filme e realizador, já era o seu filme mais visto de sempre nos Estados Unidos. Não há desentendimento, o realizador simplesmente não gosta de prémios.

Se esperança havia de que este ano seria o ano em que Woody abandonaria o título de “eterno ausente” dos prémios, depois do grande sucesso que o filme teve não só nos Estados Unidos, como em todo o mundo, a sua ausência no almoço da semana passada, organizado pela Academia e que reúne à mesa todos os nomeados aos Óscares, indica que mais uma vez poderá optar ou pelo recanto da sua casa ou por um concerto com a sua banda de jazz, New Orleans Jazz Band, como já aconteceu em anos anteriores.

Foi em 1977 que Woody Allen se consagrou como realizador e argumentista, com a estreia de “Annie Hall”. A comédia romântica valeu-lhe as primeiras nomeações para os Óscares e os primeiros prémios. O filme, que estava nomeado para cinco categorias (melhor filme, realizador, actriz e actor, e melhor argumento original), conquistou quatro estatuetas e por ganhar ficou apenas o Óscar de melhor actor, nada mais, nada menos, do que para o próprio. A tripla nomeação (realizador, argumentista e actor) surpreendeu Hollywood mas nem isso foi motivo suficiente para Woody Allen aparecer na cerimónia. A última pessoa a conseguir esta proeza tinha sido Orson Welles por “Citizen Kane – O Mundo a Seus Pés” (1941).

Mais tarde, Woody Allen contou que nem nessa noite soube que tinha ganho porque fez questão de dormir e desligar o telefone de casa, mostrando assim a importância que os prémios têm na sua vida. “O Óscar para ‘Annie Hall’ não significou nada”, disse então, explicando que “nunca gostou de competir”.

Nove anos depois, em 1987, a história repetiu-se com “Ana e As Suas Irmãs”, considerado pela Variety como uma das suas maiores obras. O filme conseguiu sete nomeações, incluindo melhor filme, realizador e argumento original, categoria que venceu, mas quem quisesse ver Woody teria de se deslocar à hora da cerimónia a um clube de jazz onde o realizador tocava clarinete. Desde então as nomeações têm-se multiplicado e hoje já conta com 23 (15 na categoria de melhor argumento original, sete para melhor realizador e uma para actor). Mesmo quando o nome de Allen não surge na lista dos candidatos aos Óscares, é habitual ver os seus actores nomeados, em especial na categoria de actor e actriz secundários.

A única vez em que participou nos Óscares

A única vez em que participou nos Óscares foi em 2002 e não para receber algum prémio mas sim para prestar homenagem a Nova Iorque, palco de muitos dos seus filmes, como “Annie Hall” e “Manhattan”. Inesperadamente e sem ninguém saber, a não ser a produtora da cerimónia Laura Ziskin - uma das condições de Allen –, o realizador apareceu no palco, apresentado por Whoopi Goldberg, tendo recebido imediatamente uma grande ovação de pé de todos os presentes.

“Há umas semanas o meu telefone tocou e quando me disseram que era da Academia eu entrei em pânico”, disse, bem-disposto, lembrando que não tinha nenhuma nomeação para esse ano. “Pensei que queriam os meus Óscares de volta e depois achei que me queriam pedir desculpa [por não estar nomeado] ”, brincou, explicando que aceitou o convite para apresentar a homenagem a Nova Iorque por ser um “bonito tributo” à sua cidade. “Por Nova Iorque faço tudo.”

No entanto, não passou pelo tapete vermelho, nem assistiu à cerimónia ao lado público. Chegou apenas meia hora antes da sua apresentação, entrou pelas traseiras e disfarçadamente, e abandonou o Kodak Theatre logo a seguir.

“Aquilo foi simplesmente um milagre”, disse depois Laura Ziskin ao Los Angeles Times sobre a aparição de Woody Allen nos Óscares. “Todos os produtores sempre o quiseram na cerimónia”.

Desde então tem-se mantido não só afastado destas cerimónias como também dos palcos norte-americanos, tendo-se voltado para a Europa, onde tem rodado os seus últimos filmes. Dono de estilo único, já passou por Londres, onde filmou “Match Point” (2005), Barcelona, com “Vicky Cristina Barcelona” (2008), e Paris, com “Meia-Noite em Paris”, estando agora em Roma, onde está a rodar o seu novo filme, ainda sem título.

Apesar de ter sido rodado longe das grandes produções hollywoodianas, “Meia-Noite em Paris” parece ser o retorno em grande de Woody Allen aos Estados Unidos. A comédia, que através da história de Gil (Owen Wilson), um argumentista de Hollywood que está a escrever seu primeiro livro durante uma viagem em Paris, presta homenagem à efervescência cultural da capital francesa dos anos 1920 e 30, foi a mais vista de sempre, tendo somado só nos Estados Unidos 56,5 milhões de dólares (42,6 milhões de euros).

Além das categorias de melhor filme e realizador, o filme está ainda nomeado para melhor argumento original e melhor direcção artística. “Meia-Noite em Paris” parece estar longe do grande favorito, “O Artista”, mas é bem provável que Woody Allen leve para casa o Óscar de melhor argumento, depois de ter conquistado o Globo de Ouro e ainda o prémio principal do Sindicato de Argumentistas de Hollywood (WGA, na sigla em inglês). Apareça ou não na cerimónia.

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