Durante o dia de ontem foram muitas as pessoas que se deslocaram ao museu para poderem ver, pela primeira vez, o quadro, que terá sido pintado por um dos pupilos de Leonardo da Vinci. A descoberta foi anunciada no início do mês, mas na altura o restauro do quadro ainda não estava completo. Já restaurado, o quadro foi exibido ao público na sala 49 do Museu, onde vai ficar até ao dia 13 de Março. Depois, a obra viaja para o Museu do Louvre, em Paris, no qual vai integrar uma grande retrospectiva de Leonardo, sendo assim exposto pela primeira vez ao lado do original.
Sobre a agitação causada e a longa fila de espera para ver o quadro, o El País escreveu que a segurança do museu “teve de aplicar-se a fundo para que os visitantes não comessem literalmente o quadro”. “Nem Angelina Jolie na passadeira vermelha da Berlinale despertou tantas paixões”, escreveu o ABC.
Juntamente com o quadro, o Museu do Prado deu ainda a conhecer os resultados do processo de restauro, que procuraram determinar a origem da obra e o seu autor. Em comunicado, o Prado explicou que a cópia de “Mona Lisa” estava no museu desde a sua fundação, tendo pertencido antes à colecção real espanhola, não se sabendo, no entanto, quando e como lá chegou.
Miguel Falomir Faus, responsável pelo departamento da pintura italiana no Museu do Prado, considera que é muito possível que a obra tenha chegado à colecção real nos inícios do século XVII.
De acordo com o comunicado, o trabalho de restauro da obra foi iniciado há dois anos em colaboração com o Museu do Louvre e com o propósito de a obra poder vir a integrar a exposição “L’ultime chef-d’oeuvre de Léonard de Vinci, la Sainte Anne” (de 29 de Março a 25 de Junho, em Paris). Através do recurso a reflectografia de infravermelhos, foi possível comparar a cópia com a obra original, que revelou logo a semelhança da pintura e do traço da época. A madeira da tábua usada no quadro era também a mesma que Leonardo usava nos seus quadros e que também os seus pupilos, que trabalhavam consigo na sua oficina, usavam.
Os testes feitos ao quadro revelam ainda que o processo criativo da obra terá sido o mesmo de Leonardo, imaginando-se que terá sido pintado em simultâneo com o original. Ao que tudo indica, o pupilo do mestre renascentista foi pintado a obra à medida que também Leonardo da Vinci pintava o seu trabalho. Exames infravermelhos e raio-X à obra original mostram que é possível estabelecer um paralelo entre os dois quadros. As próprias correcções que Leonardo fez na sua “Mona Lisa”, como a alteração do tamanho da cintura ou a posição dos dedos, terão sido seguidas pelo seu pupilo, como provam os traços e os desenhos escondidos debaixo da pintura.
“Um copiador tradicional teria transcrito tudo o que via na superfície mas não o que estava por baixo dela”, destaca o comunicado, acrescentando que este estudo dá novas luzes não só sobre o enigmático quadro como também sobre a forma de trabalhar na oficina de Leonardo.
Antes do restauro a obra aparentava ter um fundo negro, mas depois da intervenção dos peritos de conservação, a obra ganhou um fundo em tudo idêntico ao quadro original.
O autor do quadro é ainda uma incógnita. Segundo o museu, o estilo do desenho não é comparável com os conhecidos seguidores de Leonardo, como Boltraffio, Marco d’Oggiono ou Ambrogio de Predis. “No entanto, o trabalho pode ser localizado estilisticamente num contexto Milanese perto de Salai (1480-1524) ou possivelmente Francesco Melzi (1493-1572/73).”
A obra está catalogada como “La Gioconda, studio of Leonardo da Vinci, ca.1503-16. Oil on walnut panel”.