Sara Martins: "As pessoas disparam e não olham"
A proprietária da Casa Formosa considera que é mais um ciclo “que passará e voltará noutra geração”. Mas "existem meia dúzia de pessoas que resistem”
É o “elemento de surpresa”, o romantismo e a falta de “controlo” que torna o analógico tão especial para Sara Martins. “Vai contra a corrente da forma como tudo funciona agora, muito rápido e imediato. As pessoas disparam, disparam e não olham”.
Após pedir uma máquina fotográfica ao pai, decidiu seguir formação na área da fotografia na Academia Contemporânea do Espectáculo, no Porto, onde chegou a frequentar o curso de comunicação audiovisual. Mas o vídeo não lhe “interessava minimamente”. “Fotografava com a máquina compacta dos meus pais, mas queria uma para mim. Comprei a máquina e comecei a experimentar”, confessa Sara ao P3.
“O analógico é uma coisa muito autodidáctica”. E a paixão levou-a a ter uma divisão em casa só para o processo de revelação de fotografias, onde a colecção já “vai para cima de 10 máquinas”. Confessa que “não tem interesse nenhum” em lidar com a fotografia digital. “Eu gosto de esperar, gosto do processo todo de laboratório. Gosto de ter essa surpresa”.
Fotografa os hóspedes todos
Apesar de não ter um trabalho relacionado com a fotografia, Sara transporta o gosto para a Casa Formosa, a Guest House que fundou: “fotografamos todos os hóspedes, é a primeira coisa que lhes perguntamos”. Relativamente à moda que se tem sentido nos últimos anos, Sara afirma que “há sempre a vontade das pessoas mais novas irem contra a corrente”. Considera que é mais um ciclo “que passará e voltará noutra geração” mas que existem sempre “meia dúzia de pessoas que resistem”.
Também tem uma máquina lomográfica e afirma que tem “utilidade” por ser “uma máquina muito pequena e que dá para levar para todo o lado”. “Neste momento não trago a minha máquina, trago a minha Lomo e sinto-me um bocado despida. Sou tão obsessiva que não sei bem se é um gosto, se é o facto de estar viciada”.
Para Sara, a Lomografia é eficaz porque contribui para uma iniciação no mundo da fotografia analógica. Mas afirma que “tem efeitos demasiado coloridos” e confessa que “odeia” aplicações como o Instagram, uma aplicação desenvolvida para o iPhone e o iPod Touch, que tenta reproduzir o efeito do analógico. “Sempre fui uma pessoa muito ligada ao passado, às memórias. Sempre quis guardar tudo: bilhetes de camioneta, de autocarro, de concertos. Acho que comecei a fotografar também por isso, queria-me recordar das coisas. Não passo um dia sem tirar fotografias, é a forma de me expressar”.