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Igrejas Caeiro, pioneiro da rádio, morreu aos 94 anos

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Igrejas Caeiro "inovou" na rádio, nos programas ao vivo, diz Vieira dr

Nos dias da rádio era uma das figuras mais populares do país, apesar de a ditadura o ter afastado da Emissora Nacional

Era um homem de muitas facetas, que quase sempre se entrelaçavam: autor e locutor de programas de rádio, apresentador de programas de televisão, actor, encenador e deputado. Francisco Igrejas Caeiro, que sofria da doença de Alzheimer, morreu ontem aos 94 anos. O corpo pode ser velado a partir das 15h de hoje no Palácio dos Aciprestes, em Linda-a-Velha, de onde o cortejo fúnebre sairá pelas 14h30 de amanhã para o crematório do cemitério do Alto de S. João, em Lisboa.

Nascido a 18 de Agosto de 1917 em Castanheira do Ribatejo, Igrejas Caeiro começou a carreira como actor em 1940, no Teatro Nacional D. Maria II, na peça O Caso do Dia, de Ramada Curto, depois de ter ficado em primeiro lugar no concurso À Procura de um Actor. Pouco depois não só estava a entrar em filmes, como Porto de Abrigo (1941), Amor de Perdição (1943), ou Camões (1946), como se tornava locutor da Emissora Nacional.

Como autor, apresentador e empresário de programas de rádio deixou o nome ligado a Os Companheiros da Alegria, O Comboio das Seis e Meia e Perfil Dum Artista. Nesta altura já tinha sido expulso da Emissora Nacional, a rádio estatal, por causa das suas posições contra a ditadura.

"Foram saneadas várias figuras da Emissora Nacional no final dos anos 40, por terem apoiado o Movimento de Unidade Democrática, da oposição, e entre elas estava Igrejas Caeiro", refere o jornalista Joaquim Vieira, que coordenou o livro A Nossa Telefonia, publicado pela RTP em 2011, nos 75 anos da rádio pública, hoje RDP.

"Foi uma personalidade da rádio muito importante, porque inovou, sobretudo em programas ao vivo, com público e transmitidos em directo", realça Joaquim Vieira. "Foi pioneiro, na medida em que estabeleceu um modelo de rádio interactiva, com participação do público."

Com o programa Os Companheiros da Alegria, a partir de 1951, no Rádio Clube Português, percorreu o país de ponta a ponta. Era feito no final de cada etapa da Volta a Portugal em Bicicleta e tinha uma rubrica, os Diálogos da Lelé e do Zequinha, interpretados por Irene Velez (com quem Igrejas Caeiro foi casado) e Vasco Santana. "Era um fenómeno de popularidade espantosa", lembra Joaquim Vieira.

Em Perfil Dum Artista, também no Rádio Clube Português, entrevistou mais de 300 intelectuais e artistas portugueses e brasileiros. "Naquela época, praticamente mais ninguém fazia entrevistas na rádio a figuras da cultura", frisa ainda Joaquim Vieira.

Já O Comboio das Seis e Meia, gravado num teatro lisboeta, era transmitido em diferido pela Rádio Graça, de Lisboa. Tinha igualmente público, sketches de teatro, música.

Em 1954, declarações suas sobre a ocupação portuguesa de territórios da Índia, em que elogiava o primeiro-ministro indiano, Jawaharal Nehru, também desagradaram ao regime.

Do seu currículo consta ainda a fundação e direcção do Teatro Maria Matos em Lisboa, em 1969. Depois do 25 de Abril, regressou à rádio pública, fez na televisão o programa TV Palco, no qual noticiava actividades teatrais, e como militante do PS foi deputado.

Ontem, o Presidente da República, Cavaco Silva, o secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, o líder do PS, António José Seguro, o presidente da Sociedade Portuguesa de Autores, José Jorge Letria, entre outras personalidades, lamentaram a morte de Igrejas Caeiro.

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