Roubo no Museu de Olímpia em Atenas revela falta de segurança
O património cultural na Grécia não está em risco, garante a UNESCO, mas em menos de dois meses este é o segundo assalto que faz tremer o Governo
Dezenas de objectos e artefactos arqueológicos de valor incalculável foram ontem roubados por dois homens armados do Museu de Olímpia, a antiga cidade grega, onde nasceram os Jogos Olímpicos, pondo a descoberto o baixo nível de segurança das instituições culturais gregas. Em menos de dois meses, dois importantes museus foram assaltados em Atenas.
Embora a UNESCO garanta que o património grego não corre risco, os especialistas acreditam que a situação instável que a Grécia está a viver é um perigo. O ministro da Cultura. Pavlos Geroulanos, pediu a demissão, pouco depois do roubo.
O assalto, que já é considerado um dos maiores roubos de arte na Grécia, aconteceu ontem por volta das 7h (5h em Lisboa), quando dois homens encapuçados e armados forçaram a entrada no museu, aproveitando a entrada ao serviço da segurança, uma mulher. Durante a noite, o museu estaria protegido só com o alarme. Segundo a imprensa, a segurança ofereceu alguma resistência, acabando por ser amarrada pelos homens, que logo depois destruíram o alarme e roubaram cerca de 68 peças, na sua maioria estátuas e esculturas de bronze.
"A primeira impressão que tenho é que isto é uma enorme negligência", disse ao PÚBLICO por telefone Costa Carras, vice-presidente da Europa Nostra na Grécia, uma associação pan-europeia de defesa do património. O assalto, explicou, é uma consequência clara da desorganização governamental grega. "Isto é mais um exemplo das más condições em que está o Governo. Este assalto é muito grave e muito sério, como aliás se pode perceber pela demissão do primeiro-ministro", continua Carras, lembrando que a alta taxa de desemprego no país contribui para o aumento da criminalidade.
Já em Janeiro, quando duas obras de arte, um quadro de Pablo Picasso e outro de Piet Mondrian, foram roubadas da Galeria Nacional de Arte, uma das maiores galerias de arte da Grécia, o Ministério da Cultura alegou que os cortes no orçamento tinham afectado a organização das instituições culturais, que se viram obrigadas a cortar no pessoal.
"Isto provoca obviamente danos na segurança dos museus", atesta Costa Carras, contando que corre o rumor em Atenas de que o assalto terá sido executado por dois emigrantes. "Mas não posso comentar isso enquanto não sair o relatório policial a contar o que realmente aconteceu."
Ao PÚBLICO o gabinete da UNESCO na Grécia explicou que os homens que fizeram o assalto "estavam à procura de ouro", revelando que tinham poucos conhecimentos sobre o Museu de Olímpia. "Se conhecessem a história de Olímpia, sabiam que naquele museu não existe ouro", explicou o gabinete de imprensa, garantindo que não é por isso que o património grego corre risco. "O povo grego é muito sensível em relação à sua história e à sua cultura, tem orgulho e é protector."
A direcção do museu não quis fazer qualquer comentário à situação, nem dizer quais as peças roubadas, explicando ao PÚBLICO que estão a trabalhar de perto com a polícia e com o Ministério da Cultura, remetendo para um comunicado mais tarde (até à hora de fecho da edição não houve comunicado).
Também a UNESCO já accionou todos os meios, ao abrigo da Convenção para a Luta contra o Tráfico Ilícito das Bens Culturais, lançando um alerta internacional de forma a garantir que nenhuma das peças é vendida no mercado negro, revelou Manuela Galhardo, secretária executiva da Comissão Nacional da UNESCO.
"É uma situação preocupante, Olímpia tem um espólio riquíssimo", atestou. A UNESCO vai trabalhar de forma a "minimizar os estragos", através da divulgação de uma lista de todos os objectos roubados, garantiu Manuela Galhardo. "O objectivo é que os objectos não possam ser vendidos e assim fiquem na Grécia para que não se perca património."
Para Sneska Quaedvlieg-Mihailovic, secretária-geral da Europa Nostra, este assalto é a prova de que, quando existe uma crise financeira, o património cultural é um alvo. "Isto é uma acção deplorável de alguém que se aproveitou da situação. Infelizmente é também resultado da falta de segurança e organização", afirmou ao PÚBLICO. "O Governo grego está sob uma grande pressão para cortar, mas estes cortes vão sair caros. O que está a acontecer é muito perigoso para a Europa."
Contactado pelo PÚBLICO, o embaixador da Grécia em Portugal, Vassilios Costis, não quis comentar o sucedido, explicando que não pode falar enquanto não sair o relatório policial.