Fundador da UDT João Carrascalão morreu em Díli
O histórico dirigente timorense João Viegas Carrascalão morreu ontem em Díli, com 65 anos, informou a sua irmã Natália, embaixadora de Timor-Leste em Lisboa, que soube da notícia durante uma escala em Singapura, a caminho do seu país.
Nascido em Liquiçá a 11 de Agosto de 1945, um dos 12 filhos de Manuel Carrascalão, deportado por Salazar para Timor por causa das suas ideias subversivas, João foi o fundador da União Democrática Timorense (UDT) e uma das figuras mais importantes da luta política da ilha. Era embaixador na Coreia do Sul desde 2009.
Em Agosto de 75, descontente com a política de descolonização do Governo português, liderou um movimento para afastar os elementos radicais das posições de responsabilidade no governo de Timor. O seu objectivo político era uma descolonização gradual e cuidada que conduzisse à independência; a iniciativa acabou por fugir ao seu controlo, levando o governador Lemos Pires a abandonar Dilí e refugiar-se na ilha de Ataúro, e precipitando a guerra civil que serviu de pretexto à Indonésia para invadir e anexar o então território português.
Desse tempo vem a relação tensa entre a sua UDT (que liderou até ceder o cargo, em Fevereiro de 2010) e a Fretilin, que na sua opinião seguia "práticas revolucionárias que nada tinham a ver com a realidade". Esteve exilado na Austrália.
João Carrascalão, que estudou topografia e cartografia em Angola e na Suíça, foi ministro no governo de transição apoiado pela ONU e membro do Conselho de Estado. Candidatou-se à sucessão de Xanana Gusmão nas presidenciais de 2007, mas ficou em último, com menos de 2% dos votos.
Carrascalão sofria de problemas cardíacos e diabetes, e nos últimos meses o seu estado de saúde tinha-se degradado, informou o seu cunhado João Severino no seu blogue.