Cúpula é mais europeia numa Igreja Católica cada vez mais do Sul

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Início do consistório, no Vaticano, nesta sexta-feira Foto: Giampiero Sposito/Reuters

A cerimónia formal de investidura dos "príncipes da Igreja", como eram designados, será amanhã durante uma missa na Praça de S. Pedro do Vaticano, com a entrega do anel e do barrete cardinalícios. No domingo, haverá uma outra celebração de homenagem dos cardeais ao Papa.

Com estas nomeações, conhecidas em Janeiro, Bento XVI parece ter cedido alguma iniciativa ao seu secretário de Estado, o cardeal Tarcisio Bertone, que tem estado no centro de várias polémicas recentes - como protagonista ou como visado (ver texto na página ao lado). No início do seu pontificado, conta-se que, quando o então secretário de Estado do Vaticano, cardeal Angelo Sodano, apresentou uma lista de nomes possíveis para o cardinalato, o Papa terá respondido: "Eu decido."

Desta vez, talvez porque Bento XVI começa a registar algum cansaço físico, tudo indica que, perante os nomes conhecidos, o actual secretário de Estado terá tido um forte peso na escolha: há sete italianos e dez responsáveis da Cúria Romana, o organismo que funciona como Governo da Igreja Católica.

Este consistório marca também um outro factor: a partir de hoje, a maioria de cardeais que podem votar num futuro conclave (68 num total de 125) terá sido já nomeada por Bento XVI, que assim influenciará decisivamente a escolha do seu sucessor.

Apesar de, durante alguns anos, o anterior Papa, João Paulo II, ter promovido um importante movimento de internacionalização da Cúria, essa tendência ainda não é definitiva. E, com o alemão Joseph Ratzinger, a europeização voltou a acentuar-se.

A partir deste consistório, a maioria dos eleitores num futuro conclave para escolha do sucessor de Bento XVI serão predominantemente europeus (67). Destes, Itália esmaga com 30 cardeais, havendo ainda seis alemães. Por contraste, a Europa apenas representa hoje 24% dos 1,2 mil milhões de católicos do mundo.

O paradoxo é que este colégio de consultores - e eleitores - do Papa é cada vez mais europeu e ocidental numa altura em que o catolicismo pende cada vez mais para o Sul - seja geográfico ou político. E, mesmo sabendo que a escolha de um Papa não tem como primeiro critério a geografia, um leque de escolhas mais restrito ou mais alargado faz diferença.

Evangelização do Ocidente

Nos Estados Unidos está o segundo maior grupo nacional de cardeais eleitores (12). No outro prato da balança, há apenas 22 cardeais latino-americanos (dos quais seis brasileiros), 11 africanos e nove asiáticos. Segundo os dados de 2009 do Anuário Estatístico da Igreja Católica, metade dos católicos do mundo estão na América (com a maior parte na América Latina), enquanto a Ásia tem quase 11% e a África pouco mais de 15% (ver infografia).

O peso da Europa e do Ocidente no colégio de cardeais não é estranho às convicções e prioridades do Papa, que insiste na ideia da "nova evangelização" do continente europeu. Ao ser eleito, em 2005, para suceder a João Paulo II, Ratzinger escolheu o nome do santo patrono da Europa. E, ao anunciar os novos cardeais, em Janeiro, afirmou: "A civilização ocidental parece ter perdido o norte e navega à vista, mas a Igreja, graças à palavra de Deus, vê através da bruma."

Sinal desta prioridade absoluta à Europa e ao Ocidente é o facto de, entre os 22 novos cardeais, apenas três serem não-ocidentais: o brasileiro João Braz de Aviz - que, no entanto, preside no Vaticano à Congregação dos Religiosos -, o indiano George Alencherry e John Tong Hon, de Hong Kong.

O colégio dos cardeais acentua ainda outro facto: a liderança da Igreja continua a ser predominantemente de anciãos, numa altura em que a média etária dos católicos baptizados e mesmo do clero é cada vez mais jovem. Depois deste consistório, quase metade (58) dos cardeais terão 75 anos ou mais. Um total de 78 entre eles nasceram na década de 30 do século XX, antes do início da II Guerra Mundial. Só oito nasceram já na década de 50, tendo os restantes nascido na década de 40.

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