Comem pouco e comem mal: a malnutrição mata 300 crianças por hora em todo o mundo

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80% dos casos de raquitismo encontram-se nos países mais pobres TONY KARUMBA/AFP

A Save the Children propôs ao primeiro-ministro britânico, David Cameron, a realização de uma cimeira sobre a malnutrição por altura dos Jogos Olímpicos

Primeiro os números, de seguida, para terem impacte: 300 crianças morrem a cada hora que passa de malnutrição; por ano, morrem 2,6 milhões; na próxima década e meia, 500 milhões ficarão com sequelas físicas e mentais devido ao raquitismo. Em muitas partes do mundo, a próxima geração está comprometida porque as crianças estão a comer pouco e a comer mal - faltam-lhes os nutrientes essenciais para que o corpo e o cérebro cresçam como devem, denuncia o relatório Free from Hunger: Tackling Child Malnutrition (Livres da fome: enfrentar o malnutrição infantil), da organização não governamental Save the Children.

Divulgado ontem, o relatório centrou-se em cinco países (Índia, Bangladesh, Nigéria, Tanzânia e Peru), mas apresenta dados globais, como o que diz que 80% dos casos de raquitismo se encontram nos 20 países mais pobres do mundo. O documento não é feito só de números. Também tem casos. Da Índia, onde 48% das crianças sofrem de raquitismo, da Nigéria ou da Tanzânia, onde a malnutrição infantil está a subir vertiginosamente.

Do Bangladesh surge a história de Rupa, uma menina que nasceu num bairro de lata de Daka e que tem quatro meses e dois quilos. Deveria ter três, mas come pouco porque a comida está cara. Um dos problemas identificados pela Save the Children é a inflação, o imparável aumento dos preços dos alimentos, que está a obrigar os pais a opções difíceis. Pagar a renda de casa - de uma barraca, no caso dos pais de Rupa - ou comer.

A Save the Children ouviu milhares de famílias e concluiu que o preço dos alimentos está a contribuir para um retrocesso na mortalidade infantil - um terço dos pais inquiridos admitiu que os filhos não comem o suficiente. "É uma fome escondida que pode destruir quase 500 milhões de vidas se os líderes mundiais não agirem já", disse ao jornal The Guardian o director da Save the Children, Justin Forsyth.

A organização propôs ao primeiro- -ministro britânico, David Cameron, a realização de uma cimeira sobre a malnutrição. Seria em Londres, coincidindo com a abertura dos Jogos Olímpicos e aproveitando a presença de muitos chefes de Estado ou de Governo de todo o mundo.

Forsyth disse que nutrir as crianças é uma decisão "barata" com efeitos paralelos: ajudaria a relançar economias num momento de crise global, explicou. Não o fazer, adiantou, terá consequências profundas: além de comprometer a saúde das crianças, vai ter implicações ao nível da educação, o que influenciará o futuro dos países. Um em cada seis pais que responderam ao inquérito em que se baseou o relatório disse que irá tirar os filhos da escola para que possam trabalhar e ajudar o agregado a manter-se.

"O impacte pode ser devastador. Malnutridas, as crianças vão crescer com défices físicos, com baixos QI e terão mais probabilidade de abandonar a escola e menos de encontrar um trabalho", alertou Forsyth. "Em 2010, a malnutrição custou ao mundo 77 milhões de milhões de libras", diz o relatório, citando um documento do Banco Mundial, dizendo que, no futuro próximo, mais famílias estarão na pobreza. A ONU estima que, em 2050, serão 24 milhões as crianças malnutridas em todo o mundo.

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