Ana Salazar rompe com a marca de moda a que dá nome
Marca continua, diz o dono da empresa, que a criadora acusa de "incumprimento generalizado" e "dívidas"
As roupas da marca Ana Salazar vão deixar de ser desenhadas pela veterana da moda de autor portuguesa. A criadora anunciou ontem a ruptura com a empresa dona da marca a que dá nome há 30 anos, alegando "dívidas" e "incumprimento generalizado". Mas a marca Ana Salazar "é para continuar, a empresa é para continuar", diz João Barbosa, accionista e gestor da Ana Salazar Lda.
Em 1982, Ana Salazar funda a sua marca. Em 2009, João Barbosa e o seu sócio Luís Aranha compram 74% do capital da empresa, que inclui perfumes e acessórios. "Cedi primeiro a maioria e num segundo momento a totalidade do capital", diz Ana Salazar em comunicado, referindo-se ao momento em que tentou também a expansão para o Brasil e a abertura de mais lojas. Em 2011, Luís Aranha sai e João Barbosa torna-se o accionista e gerente da Ana Salazar Lda. Ontem, Ana Salazar anuncia que cessa "qualquer colaboração com a empresa", onde desde 2009 era apenas directora criativa, numa lógica comum no mercado internacional. "Não posso mais tolerar uma situação de incumprimento generalizado para com o pessoal, os fornecedores, os parceiros e para comigo", lê-se na nota, enviada após ter sido noticiado que a marca não estaria na 38.ª ModaLisboa (8 a 11 de Março). João Barbosa não quis comentar dívidas ou incumprimentos na Ana Salazar Lda., mas falou de "contenções de custos" e mudanças sem as quais haveria risco de "fecho da empresa".
A criadora disse ainda ao PÚBLICO que "só [lhe] foram pagas as primeiras prestações" da aquisição da empresa" e no comunicado precisa que a colecção de Outono/Inverno 2012-13 não foi sequer produzida. O gestor da Ana Salazar Lda. diz desconhecer a situação da colecção - "é uma responsabilidade que lhe assistia contratualmente" - e que a presença na ModaLisboa ou no Portugal Fashion será analisada.
Ana Salazar, que diz "não ser responsável por qualquer dívida", irá "continuar a criar". Mas não na Ana Salazar Lda., que poderá entregar a criação a outro designer mantendo o mesmo nome. Desde que a criadora alienou o seu capital na empresa, que existem outros designers a trabalhar nas colecções, diz João Barbosa, que admite que o anúncio de ontem "é um facto relevante para a imagem e situação da empresa" no contexto de crise.
É o contexto que leva a dupla Alves/Gonçalves e Aleksandar Protic a estar fora da próxima ModaLisboa: querem apostar no negócio em curso e o investimento em colecções maiores para passerelle é agora incomportável. A responsável da Associação ModaLisboa, Eduarda Abbondanza, "já esperava" que alguns criadores pudessem não aceitar o convite da ModaLisboa, dada a "contracção económica do país", mas aprecia a prioridade dada por eles ao negócio.
Com a saída do patrocinador principal há vários anos e a entrada de novo parceiro, a próxima ModaLisboa tem um orçamento de cerca de 730 mil euros (800 mil na 37.ª). O peso do investimento privado diminuiu (377.500 euros) e a Câmara de Lisboa continua a participar com 352.500 euros. com A.D.C.