Elísio Summavielle assume direcção-geral do Património sem pensar em cores políticas

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Summavielle, 56 anos: um militante PS "de base" num Governo PSD/CDS Enric Vives-Rubio

Ex-secretário de Estado socialista volta a ditar cartas num Governo presidido por um social-democrata. Um dos seus adjuntos também passou a director-geral

Elísio Sumavielle, ex-secretário de Estado da Cultura do anterior Governo PS, é a partir de hoje o novo director-geral do património. Há já meses que vinha sendo apontado como o mais que provável responsável pela nova Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), o organismo que vai juntar as competências da extinta Direcção Regional de Cultura e Vale do Tejo e das entidades que até aqui se ocupavam dos museus e do património: o Instituto dos Museus e da Conservação (IMC) e o Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar).

"Aceitei [segunda-feira] o convite com muita honra", disse ontem ao PÚBLICO Elísio Summavielle, numa breve conversa telefónica. "É um desafio novo numa carreira de 31 anos de serviço público ininterrupto, segundo um modelo de fusão do património que sempre defendi. Fazia todo o sentido dizer que sim."

A atribuição do cargo a Summavielle foi comunicada ao final da manhã às chefias do IMC e do Igespar pelos respectivos directores, João Brigola e Luís Coelho, que ontem cessaram funções. Só depois o comunicado da Secretaria de Estado da Cultura (SEC) chegou às redacções, dando ainda conta de uma outra nomeação, a de Henrique Parente, o economista que foi adjunto de Summavielle entre Novembro de 2010 e Junho de 2011, para director-geral do Gabinete de Estratégia, Planeamento e Avaliação Culturais (GEPAC) que, no âmbito do Plano de Redução e Melhoria da Administração Central do Estado (Premac), substitui o gabinete de relações internacionais.

Segundo o comunicado da SEC, em que se sublinha que os dois dirigentes "são detentores de amplos e reconhecidos currículos ao mais alto nível nas suas respectivas áreas", Summavielle assegura transitoriamente as direcções do IMC e do Igespar até que entre em vigor o decreto-lei que regulamenta a nova direcção do Património, o que deverá acontecer na primeira semana de Março.

Apesar de assumir o cargo numa altura em que o Governo é acusado de fazer sucessivas nomeações políticas, Summavielle, militante socialista "de base" há 30 anos, não teme "segundas interpretações": "Não me ponho a pensar se fui escolhido para que o Governo pudesse demonstrar que também faz escolhas fora da sua esfera política... O meu percurso fala por si. Servi o XVIII Governo Constitucional [o segundo de José Sócrates] com muito orgulho, assim como sirvo a causa do património, independentemente de cores políticas. Sou um técnico, e também socialista, republicano e laico, como o dr. Mário Soares. Tenho as minhas convicções e uma delas é a importância estratégica do património".

Formado em História pela Faculdade de Letras de Lisboa, Elísio Summavielle, 56 anos, entrou para a área do património em 1985, através do então Instituto Português do Património Cultural. Foi na Direcção-Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais que fez boa parte da sua carreira, assumindo a direcção do Património - primeiro no Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar) e depois no Igespar - entre 2005 e 2009, cargo que abandonou para aceitar a secretaria de Estado no ministério da socialista Gabriela Canavilhas, que ontem recusou fazer qualquer comentário sobre a nomeação de Summavielle.

Foi na qualidade de técnico superior do Igespar, cargo a que regressou depois da passagem pelo Governo, que Summavielle trabalhou nos últimos meses nos diplomas regulamentares da nova DGPC, que deverá gerir mais de mil funcionários e cujo orçamento preferiu não comentar. "Não tenho medo da burocratização porque acho que esta direcção-geral, com uma visão unívoca do património e sem os quintais em que ele se dividiu nos anos 90, tem tudo para ser mais eficaz", disse o novo director-geral.

A SEC anunciara em Setembro a criação de uma DGPC, medida que fazia parte do Premac, programa com que prometia poupar 2,6 milhões de euros, reduzindo de 191 para 122 os cargos dirigentes na área da Cultura.

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