Se ainda há coisas, a tentar florescer neste rabo de peixe chamado Portugal, uma delas é a medula do teatro, ou seja, a sua dramaturgia. Tentando contrariar a recessão que se faz sentir no nosso país, a dramaturgia portuguesa contemporânea surge agora em vários teatros como um investimento prioritário. São vários os directores e/ou programadores que revelam vontade em investir nesta área tão preciosa à própria identidade teatral.
O Teatro S. João no Porto (TNSJ) sempre revelou interesse pela dramaturgia portuguesa, fazendo as suas próprias publicações e promovendo os nossos autores contemporâneos (mas não só). O TNSJ efectua também leituras quinzenais no Centro de Documentação, sito no Mosteiro de São Bento da Victória, aproximando, assim, o mais vasto público dos textos para teatro.
Também em Lisboa, e ainda sob a direcção de Diogo Infante, o Teatro Nacional Dona Maria II criou uma editora (a Bicho-do-Mato), que foi publicando todos os textos que ali eram postos em cena (tanto na sala estúdio, como na Garrett). Iniciativa de louvar, pois a edição nesta área é escassa e muitos são os textos que se perdem por não terem sido publicados.
No início deste ano, foi a vez do Teatro Académico Gil Vicente (TAGV), se associar à Universidade de Coimbra e criar o seu próprio Centro de Dramaturgia Contemporânea com o propósito de “promover a formação, criação, divulgação e reflexão sobre o teatro”, iniciativas da responsabilidade do dramaturgo residente (função que exercerá durante um ano apenas). A inaugurar este Centro, está o dramaturgo, encenador e actor Tiago Rodrigues que, entrevistado sobre o assunto, revelou: “Este Centro de Dramaturgia Contemporânea vem colmatar uma lacuna e vem iniciar, aquilo que eu espero que seja, um tipo de iniciativa que se repita em outros teatros”.
Segundo parece, alguém ouviu este desejo, pois quem promete seguir os passos desta iniciativa, é o Teatro Nacional Dona Maria II, na nova direcção de João Mota. O director do TNDMII, revelou recentemente a vontade de criar um Centro de Dramaturgia, que “defendeu como essencial para a criação de uma identidade teatral.” João Mota disse ainda que “sem autores não há dramaturgia, e sem criar uma dramaturgia, o teatro não vai longe”.
Haja coragem e desejo, e a dramaturgia portuguesa pode entrar num dos períodos mais férteis da sua história recente. “Defendo um olhar nosso”, diz João Mota e diz muito bem.