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Selecção, tradução e revisão: os irmãos Reis fazem tudo na mais jovem editora do país

Natália e João Reis, com 23 e 27 anos, fundaram a Eucleia Editora em 2010. Mas viver dos livros ainda é um sonho distante

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João e Natália Reis, de 27 e 23 anos, são os fundadores da Eucleia Editora Paulo Pimenta

Só depois de o nome estar registado, João e Natália Reis repararam no trocadilho: Eucleia - nome da deusa grega da glória e da reputação -, pode ser confundido com “eu que leia”. E ainda bem – a troca vem mesmo a calhar quando se trata do baptismo de uma editora.

Os livros são um vício para estes irmãos, que criaram uma editora em tempos de crise. A decisão não foi repentina. Foi um “processo metódico”, maturado durante o estudo na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e concretizado mal acabaram o curso, em 2010.

Natália tem agora 23 anos, João 27. São os mais jovens editores do país, na editora que mais livros nórdicos lançou em 2011. Mas João Reis garante que “a geografia não condiciona as escolhas” da Eucleia Editora. A selecção é feita pelos gostos pessoais destes irmãos de Vila Nova de Gaia, que se intitulam de “ecléticos” – estão abertos aos clássicos e aos contemporâneos, à ficção, poesia ou teatro, aos autores lusófonos ou não. Escolhem sempre “obras de qualidade” e quase sempre livros com “ironia, sarcasmo, melancolia e crítica social” subjacentes.

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A Eucleia é a editora que mais livros nórdicos lançou em 2011 Paulo Pimenta

Passar os dias a ler 

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A selecção é feita pelos gostos pessoais destes irmãos de Vila Nova de Gaia Paulo Pimenta

É sobretudo das muitas horas que dedicam à leitura que saem os nomes dos autores que querem publicar – “Vejo a descrição do livro ou alguma recensão e a partir daí já percebo se pode ou não interessar. Depois leio e se ficarmos interessados falamos com o agente para saber quais são os direitos, etc”, explica João Reis.

A primazia dos autores do Norte da Europa pode ser explicada pela formação de deste jovem de 27 anos: traduz inglês, sueco, norueguês, dinamarquês e é o único português a traduzir directamente do islandês. Natália Reis traduz inglês e espanhol. Esta valência é também o que lhes possibilita ter uma editora: é que todo o processo –escolha, tradução e revisão – é feito por eles.

Quando a Eucleia Editora nasceu, os irmãos Reis não tinham “qualquer ilusão de ter um negócio de milhares”, diz João. “Já sabíamos que os hábitos de leitura dos portugueses eram maus, mas percebemos depois que eram ainda piores”, lamenta Natália, formada em Línguas e Literatura Portuguesas.

Ocupar uma lacuna

O que a Eucleia faz “não seria, à partida, feito por mais ninguém”, acredita o jovem editor. “São livros que não têm características muito comerciais, pensados mais a fundo e menos na novidade”.

Viver de livros em Portugal é possível? “Para já não”, admitem. Até agora, a Eucleia Editora tem 13 livros publicados (cinco deles traduzidos por João, um traduzido por Natália), tendo cada um uma tiragem média de mil exemplares (os de poesia chegam só aos 500 e é coisa “para durar uma eternidade em algumas superfícies”, conta João, formado em Filosofia). Números que forçam os irmãos a continuar a viver – e a trabalhar – em casa dos pais.

A dedicação aos livros não é coisa de família, mas o gosto pelos livros vem de hábitos criados desde muito cedo. Não se lembram quantos livros passaram pelas mesinhas de cabeceira lá de casa, mas sabem que foram “uns milhares”. Conselhos de leitura? “A Casa Ancestral de L.” (primeiras páginas, em pdf), de José Gonçalves Gomes, escolhe Natália; A Arte de Chorar em Coro (primeiras páginas, em pdf), de Erling Jepsen, recomenda João.

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