A manifestação de 12 de Março do ano passado, que encheu a Avenida da Liberdade, em Lisboa, sobressai no balanço feito à agência Lusa pelos quatro fundadores do movimento “Geração à Rasca”, que comemora um ano este domingo, dia 5 de Fevereiro.
Apesar de terem originado a maior concentração popular ocorrida nas últimas décadas em Portugal e de se congratularem com isso, o grupo de amigos que se conheceram na faculdade faz um balanço em tom negativo do que aconteceu no país desde que, a 5 de Fevereiro de 2011, deram o tiro de partida do movimento com a abertura da respectiva página na rede social Facebook.
João Labrincha, um dos fundadores, diz que o 12 de Março foi “uma espécie de canto de cisne da democracia”, já que as pessoas pensaram que ao ir para rua deixariam claro que queriam uma mudança, mas acabaram por “perceber que não foram ouvidas e foram completamente ignoradas” pelos políticos, que “fizeram o contrário do que lhes pediam”.
Momentos negros
A assinatura do memorando com a troika e o “fim do pacto social”, que veio facilitar os despedimentos, são realçados pelo activista. Queixas a que a colega Paula Gil junta a “subida ao poder do Governo de coligação CDS-PP/PSD” e a austeridade que decretou e a que chama um “retrocesso civilizacional” que “põe em causa todo o processo democrático” português.
Quando olha para o último ano, Alexandre de Sousa Carvalho encontra “um povo a ver-se grego com tantas e tão injustas medidas de austeridade”.
Efeito positivo da movimentação social que originaram foi a colocação na agenda nacional de problemas como o desemprego e a precariedade laboral, como afirma António Frazão, o quarto dos ex-colegas do Curso de Relações Internacionais da Universidade de Coimbra que decidiram fundar o movimento “Geração à Rasca”, colocando em prática as teorias que lhes costumavam alimentar as conversas.
O surgimento de “uma cada vez maior bola de neve da cidadania democrática” é uma das perspectivas positivas encontradas no processo por Alexandre Carvalho, que gostaria de ver “enterrada” a ideia dos portugueses como “povo de brandos costumes e apático”. Para Paula Gil, a marcha de 12 Março Avenida da Liberdade abaixo foi o “despertar” para que um regime democrático tenha que ter “em conta a participação individual nas decisões que são tomadas”.