Estudo mostra que mortes por malária são quase o dobro do previsto

Foto
Para o contágio, é preciso que um mosquito pique alguém infectado e, em seguida, alguém que não esteja doente Foto: Dulce Fernandes

Nove em cada dez casos são provocados pelo mais perigoso dos parasitas, o Plasmodium falciparum. Esta doença não se transmite de pessoa para pessoa nem de mosquito para mosquito. Para o contágio, é preciso que um mosquito que tenha picado alguém infectado com o parasita pique, em seguida, alguém que não esteja doente.

As várias espécies do plasmódio da malária infectam os humanos (e outros mamíferos) através da picada de mosquitos fêmea do género Anopheles. No caso do Plasmodium falciparum, o parasita que entra no corpo vai directamente até ao fígado, reproduz-se nas células do órgão, muda de forma e entra na corrente sanguínea onde, por sua vez, infecta os glóbulos vermelhos. Aqui entra em ciclos repetidos de reprodução e provoca os ataques de febre, mal-estar e dores de cabeça que caracterizam a doença e pode matar.

Ainda assim, o estudo agora publicado reconhece que os números da malária têm vindo a cair nos últimos anos. O trabalho, que foi patrocinado pela fundação Bill e Melinda Gates, baseou-se num modelo construído com o auxílio de um computador e que acompanhou os números da patologia desde 1980 até 2010. E concluiu que a nível mundial as mortes passaram de 995 mil em 1980 para 1,82 milhões em 2004, tendo por isso os 1,24 milhões de 2010 representado, mesmo assim, uma quebra.

Muitas mortes em crianças

O trabalho, que foi coordenado por Christopher Murray, da Universidade de Washington, em Seattle, explica o aumento de mortes até 2004 com o crescimento populacional nas zonas de maior risco e atribui o decréscimo conseguido a partir desse ano ao “rápido controlo” que os países africanos conseguiram assumir com o apoio da comunidade internacional.

Apesar das melhorias, o cenário continua a ser negro: a maioria das mortes em África registou-se em crianças ainda muito jovens, mas os números em adolescentes e adultos também foi pior que o esperado. Ao todo, registaram-se mais 433 mil mortes em crianças com mais de cinco anos e em adultos do que a OMS estimou. “Nas escolas médicas aprende-se que as pessoas expostas à malária ainda enquanto crianças desenvolvem imunidade e raramente morrem com a doença como adultos”, afirmou Christopher Murray, citado pela edição online da BBC, para depois explicar que os dados recolhidos contrariam esta ideia.

Os investigadores justificam, por isso, que falar em erradicação da malária a curto ou médio prazo é impossível, estimando que só depois de 2020 se conseguirá descer o número de vítimas mortais para valores inferiores a 100 mil.

Também o editor da Lancet, Richard Horton, ouvido pela BBC, clarificou que muitos dos países mais afectados pela malária não dispõem de bases de dados fidedignas pelo que o estudo se baseou em estimativas, o que significa que os números poderão ser ainda piores. “O que este estudo mostra é uma nova forma de estimar os números de mortes provocadas por malária, utilizando dados adicionais que melhoram os modelos matemáticos de cálculo da mortalidade”, acrescentou. Como ponto positivo destacou que, “na última década, 230 milhões de casos de malária foram tratados”, o que abre portas a um melhor controlo da patologia.

Sugerir correcção
Comentar