Será que ainda há espaço para a saudável e irreverente anarquia analógica dos Marretas na nossa era tecnológica? Fizesse-se a pergunta a Miss Piggy e a resposta seria um daqueles golpes de karaté mal-dispostos em que ela se especializou. O filme de James Bobin responde também ele pela positiva, fazendo do próprio anacronismo do vaudeville subversivo dos bonecos criados por Jim Henson o seu motor.
O que aqui se encena é a ressurreição dos Marretas, separados há anos mas que se reunem para um espectáculo dedicado a salvar o seu velho teatro do camartelo às mãos de um ganancioso executivo. É uma espécie de velho musical ingénuo de Mickey Rooney e Judy Garland apimentado com o burlesco meta-referencial dos Marretas, numa recuperação quase perfeita do velho espírito da série televisiva, feita com muito amor e carinho por gente que é genuinamente fã das personagens e não carreiristas cínicos. É um grande filme? Não, nem é isso que se pedia: os Marretas sempre existiram à margem de tudo o resto e o seu estatuto de marionetas impõe limitações estéticas que funcionam melhor no pequeno que no grande écrã. Mas quando saímos do cinema com um sorriso de orelha a orelha, isso não tem importância nenhuma: é muito bonito ter os Marretas de volta.