Dois últimos funcionários do Lusocord terminam hoje contrato
As dificuldades financeiras e de pessoal arrastam-se desde que o Lusocord entrou em funcionamento, há cerca de dois anos e meio, mas a situação atinge agora o limite, com a eventual não renovação dos contratos dos dois últimos funcionários.
Apesar das tentativas, não foi possível, até ao momento, obter esclarecimentos sobre o futuro do Lusocord junto do Ministério da Saúde.
Em declarações à Lusa, a directora do Lusocord, Helena Alves, lamentou que “se tenha chegado a esta situação”, considerando que “é ainda mais difícil de compreender se se atender ao facto do banco público estar orçamentado e com mapa de pessoal (dez pessoas) previsto” no Orçamento do Estado para este ano.
Esta indefinição em relação ao futuro do único Banco Público da Células Estaminais “prejudica obviamente todo um trabalho que é preciso fazer e que tem a ver com a libertação das amostras”.
“Quanto menos pessoas tivermos, mais difícil se torna a própria disponibilização das amostras a nível nacional e internacional, porque elas estão cá, mas o serviço não está terminado”, lamentou.
Helena Alves sublinhou que “as amostras só se tornam realmente úteis no dia em que todo o trabalho estiver terminado e quando puderem ser disponibilizadas nos bancos internacionais. Mas, só alguém louco é que pensará que isso se pode fazer sem pessoal e investimento, ninguém o fez em sítio nenhum no mundo”.
Helena Alves aguarda que o Ministério da Saúde “equacione qual o investimento a fazer, qual é o pessoal necessário e o ‘timing’. Não se pode por um atleta coxo a ganhar maratonas, muito menos se forem as tutelas a cortar-lhe as pernas”.
“Espero é que não venham agora fazer de conta que afinal nós não somos capazes de terminar o trabalho. Isso seria, no mínimo, maquiavélico”, frisou.
Helena Alves mantém a esperança de que até ao final do dia seja tomada uma decisão que permita manter o banco público em funcionamento.
A falta de pessoal tem impedido que as 7.000 amostras já recolhidas fiquem definitivamente tratadas para serem disponibilizadas aos doentes.
Apesar da falta de gente, as recolhas de sangue têm continuado, mas “se a situação não se resolver, o mais provável é suspender as recolhas ou limitá-las a um ou dois hospitais”, acrescentou.
Este banco funciona no Centro de Histocompatibilidade do Norte, organismo que, de acordo com a nova lei orgânica do Ministério da Saúde, publicada este mês em Diário da República, passa para o novo Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST).
O Lusocord é um banco público, de âmbito nacional, que recebe as dádivas de sangue do cordão umbilical de todas as mães que o queiram doar para uso em transplantação e investigação.
Há cerca de 15 dias, o secretário de Estado adjunto e da Saúde, Fernando Leal da Costa, disse à Lusa que o governo iria determinar "quais são as reais carências" do Banco Público e, "em função disso, resolvê-las no imediato".
"Aquilo que nós vamos fazer é, por um lado, averiguar sobre as circunstâncias em que o banco de cordão tem estado a trabalhar, determinar quais são as reais carências e depois, em função disso, resolvê-las no imediato, de forma que, havendo necessidade de manter o mesmo nível de colheitas, elas se possam manter, acima de tudo garantindo que os produtos colhidos são internacionalmente úteis, que é a nossa grande questão", explicou.
Segundo Fernando Leal da Costa, "não se trata de ter um banco de cordão que sirva o país, trata-se de ter mais um banco de cordão com reputabilidade internacional".