Desde sempre ouvi dizer que não se pode julgar a obra de um artista, à luz da sua biografia. É compreensível que assim seja, pois uma coisa é a arte e outra (muito mais insignificante) é a vida. No entanto, há casos de excepção, cuja existência mundana foi tão marcante, que nos é de todo impossível destrinçar onde começa uma e finda a outra.
Um dos quadros de Hitler foi este fim-de-semana a leilão por uma leiloeira eslovaca (Darte), acabando por ser arrebatado por 32 mil euros. “Maritime Nocturno” é o nome da obra que Hitler criou aos 23 anos, muito antes de se imaginar como o célebre ditador, responsável pelo extermínio de milhões de judeus.
O quadro pintado em 1913, e que representa de grosso modo, o mar iluminado pela lua cheia, é bastante naive e desprovido de interesse artístico. Sabe-se que as investidas de Hitler nas Artes Plásticas, saíram-lhe frustradas na época, pela fraca apreciação que suscitavam. Talvez tenha sido por isso, que tenha decidido optar por uma carreira na política, onde conseguiu criar, um dos mais altos períodos de terror e abjecção da História.
A leiloeira Darte está a ser vítima de acusações e críticas, pois consideram que ao fazer esta venda, a Darte apoia os ideais nazis. Não posso discordar mais destas acusações - não abomino a obra por desprezar o artista. Por isso, defendo que a leiloeira tem todo o direito de vender as obras de quem lhes aprouver a quem as quiser comprar. Há tantas vendas sinistras no mercado da arte, a obra de Hitler é apenas mais uma.
No entanto, há uma questão que me intriga e me deixa a imaginar o perfil do comprador do dito quadro: Quem quererá colocar nas paredes da sua casa, um mar tão soturno, criado por um artista falhado chamado Hitler? Eu não, muito obrigada.