Foi detido o dono da fábrica dos implantes mamários adulterados

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Jean-Claude Mas segura um dos implantes retirado do mercado Foto: Eric Estrade/AFP

Ainda de acordo com a mesma agência, a detenção acontece no âmbito do inquérito aberto em Dezembro em França. Em causa estão os implantes da marca Poly Implant Prothèse (PIP) que foram retirados do mercado em 2010, depois de se ter descoberto que a empresa produziu entre 300 mil e 400 mil próteses com silicone industrial, não apropriado ao uso clínico – revelando, por isso, um risco de ruptura e de infecção muito superior ao normal.

Numa fase preliminar ao inquérito aberto por suspeitas de “homicídio e danos involuntários”, o empresário já tinha prestado declarações. Jean-Claude Mas reconheceu que “sabia que o gel não estava homologado”, mas diz ter tomado esta opção de “forma consciente porque o gel PIP era menos dispendioso mas de qualidade”. O silicone industrial utilizado é dez vezes mais barato e não apropriado para produtos clínicos, tendo revelado uma taxa de ruptura de 10%, muito superior ao normal, que não costuma ultrapassar os 4%.

A Poly Implant Prothèse foi fundada em 1991 por Jean-Claude Mas, que vinha de uma área bastante distante da dos dispositivos médicos: a sua especialidade era a charcutaria, segundo avançou a Europe 1. A sua aposta foi dominar o sector cortando nos preços e, como se veio a perceber uma década mais tarde, na qualidade. “Ele vinha da charcutaria e pôs-se a fazer próteses mamárias em Toulon. Montou um laboratório. Podíamos colocar algumas questões sobre as suas competências para se lançar na fabricação de materiais médicos”, disse à Europe 1 o cirurgião Patrick Baraf, que sempre se recusou a usar os implantes desta marca.

Cerca de 30 mil próteses ficaram em França, mas as restantes foram exportadas para pelo menos 65 países, sobretudo na América Latina, e também para vários países da Europa, como o Reino Unido, onde há 40 mil mulheres afectadas, tendo sido aconselhadas a remover os implantes como medida preventiva.

Seis rupturas em Portugal

Em Portugal, estes implantes foram proibidos em Março de 2010, quando a empresa foi encerrada, e a Direcção-Geral de Saúde (DGS) estima que só 3% de todas as próteses mamárias implantadas sejam da marca PIP. Pensa-se assim que “1500 a 2000 portuguesas tenham estas próteses implantadas”. A DGS já aconselhou as mulheres portuguesas “a consultarem o cirurgião ou médico assistente na unidade onde lhes foi colocado o implante a fim de poderem ser submetidas a exames de vigilância” e programarem uma eventual remoção se existiram indícios de riscos. O Serviço Nacional de Saúde suportará o custo da nova intervenção e substituição dos implantes sempre que a colocação dos mesmos tenha tido por base razões clínicas.

Quanto a eventos adversos, a Autoridade Nacional do Medicamento portuguesa (Infarmed) registou rupturas de seis implantes mamários em quatro mulheres, duas das quais ocorreram antes de 2010, altura em que o produto foi retirado do mercado. De acordo com o Infarmed, as notificações dos seis incidentes (rupturas) ocorreram desde o início do mês. Apesar disso, “os incidentes relativos a duas destas próteses ocorreram antes da retirada do produto em 2010”, adianta o instituto.

Portugal está em sintonia com os restantes países onde há mulheres que têm implantes mamários PIP – mas nenhum foi tão longe como França, onde existe uma associação de mulheres que reclamam apoio para retirar as próteses e colocar novas. E que ganhou novo fôlego e visibilidade porque recentemente uma das suas associadas morreu de cancro alegadamente relacionado com o rompimento do implante. Mas a ciência nunca conseguiu determinar uma relação entre o silicone das próteses mamárias e o cancro.

Aliás, no final do ano passado, o ministro francês da Saúde, Xavier Bertrand, recomendou, “a título preventivo e sem carácter de urgência”, que as 30 mil mulheres que têm implantes mamários da marca Poly Implant Prothese (PIP) os removam, mesmo que estes não apresentem qualquer sinal de deterioração.

O comunicado do Governo surgiu na sequência de um parecer científico que era aguardado e que foi realizado pelo Instituto Nacional do Cancro daquele país, que contudo assegura que “não há qualquer risco acrescido de cancro nas mulheres portadoras dos implantes PIP em comparação com outras próteses” – ao contrário do que chegou a ser noticiado, já que se contabilizaram cerca de 20 casos de tumores malignos em mulheres que tinham recebido implantes da marca em causa.

Notícia actualizada às 08h59

- Acrescenta informação de contexto sobre a situação em vários países.

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