Berthe Morisot, uma impressionista no Thyssen
É uma daquelas ironias em que a história da pintura também é fértil: conhecemos a francesa Berthe Morisot (1841-1895) certamente melhor como modelo de algumas das obras-primas de Édouard Manet (1832-1883) - como "Berthe Morisot au bouquet de violettes" (1872), por exemplo - do que como uma artista com assinatura própria, e com lugar de relevo na geração dos impressionistas.
A exposição que o Museu Thyssen-Bornemisza actualmente apresenta em Madrid pode ajudar a colocar as coisas nos seus devidos lugares e, em especial, explicar porque é que Berthe Morisot tem também direito a um lugar ao lado do seu cunhado Manet, mas também de Monet, Degas, Renoir e Pissaro, para só citar os nomes mais proeminentes desta geração que inventou o moderno e mudou a história da pintura.
Intitulada "Berthe Morisot: a pintora impressionista", a primeira exposição monográfica sobre a artista realizada em Espanha reúne 41 obras, na sua maior parte provenientes da colecção do Museu Marmottan, de Paris, fundado com o espólio doado pelos herdeiros da família da pintora. "Estes são os Morisot de Morisot", disse ao jornal "El País" Clara Marcellán, uma das responsáveis pela montagem da exposição em Madrid, que tem como imagem de cartaz a tela "No baile" (1876). "Tanto a delicadeza da paisagem, que lhe ensinou Corot, como a mestria dos retratos, que aprendeu com Manet, ou a representação impressionista dos jardins, cenas rurais e quadros domésticos de interior permitem conhecer os aspectos mais destacados da sua obra", diz o texto de apresentação da exposição, comissariada por Paloma Alarcó, conservadora do departamento de pintura moderna no Thyssen-Bornemisza.
Nascida numa família da alta burguesia francesa, Berthe Morisot foi a primeira mulher a integrar o grupo dos impressionistas, tendo estado presente e representada em praticamente todas as exposições que os revelaram, desde a histórica mostra inaugurada no atelier de Félix Nadar 25 de Abril de 1874 (e na qual, curiosamente, Manet não participou).
Morisot pintou na maioria das vezes retratos femininos, e a sequência da sua obra, pode ver-se na presente exposição, mostra como ela se foi progressivamente libertando do academismo e do naturalismo iniciais. Escrevendo sobre a sua pintura, o escritor Paul Valéry disse que ela se assemelha ao "diário de uma mulher representado através da cor e do desenho".