1 ano, 4 retrocessos, 58 desafios da caixa mistério e 72 provas eliminatórias depois, tudo leva a crer que vamos poder ver finalmente o último episódio do MasterChef Austrália. Ao mesmo tempo começa o Open da Austrália em ténis, outro meridional desafio célebre para entreter as madrugadas do próximo par de semanas. São só desculpas para recordar que a um canto imenso do mundo há um ranking musical luxuoso e diverso, que vai de Nick Cave a Kylie Minogue. Mas poucos artistas nos tomaram tantas noites quanto duas bandas ‘cabeça-de-série’ da música australiana de meados dos anos 80: The Go-Betweens e The Triffids.
O ténis, como escreve aquele que melhor escreve sobre o assunto – David Foster Wallace –, é um jogo geométrico de probabilidades, possibilidades e equações: “It is billiards with balls that won’t stand still. It is chess on the run”. Ora, os Go-Betweens e os Triffids são dos conjuntos que melhor conseguem jogar nos intervalos e encontrar o ângulo mais preciso para fazer passar a música entre o melancólico e o solar, o delicado e o objectivo, mesmo entre o comercial e o independente, atingindo a melhor forma discográfica quase em simultâneo (com ’16 Lovers Lane’ (1988) e ‘Calenture’ (1987), respectivamente).
O álbum dos Go-Betweens preserva a qualidade dos elementos. Receita de 30 minutos, mas cheia de sabor. ‘Streets Of Your Town’ tem a simplicidade das grandes canções pop. É só graciosidade e leveza, como as melhores ‘backhands’ de Federer: “Round and round, up and down / through the streets of your town. / Every day I make my way / through the streets of your town”. Já a primeira música, ‘Love Goes On!’, com uma melodia airosa e a eloquência de uns “pa-ra-pa-pa-ra-pa-pa” espalha frescura como umas gotas de lima.
Os Triffids são mais paixão e fervem em pouco lume. Em ‘Calenture’, a canção ‘Hometown Farewell Kiss’ só encontra paralelo no soco inflamado de uma malagueta numa salada de rúcula: “Higher, let the flames grow higher / Erase my name from your lips as we kiss”. A condimentação é ainda mais forte em ‘Bury Me Deep In Love’, que cheia de força e emoção tem o vocalista David McComb a cantar com uma fúria digna das mais furiosas ‘forehands’ de Nadal.
Há afinal uma razão para panelas, raquetes e guitarras terem uma forma semelhante. Fica o travo exótico da mistura entre actividades que envolvem sentidos distintos e acabam tantas vezes descritos com termos iguais: jogo milimétrico entre técnica e intuição, labor e prazer, arte e entretenimento.