Governo birmanês firmou acordo de cessar-fogo com os rebeldes karen
O regime birmanês assinou um acordo de cessar-fogo com os rebeldes da União Nacional Karen, num importante passo de pacificação com as minorias étnicas do país e avaliado como o princípio do fim de uma das mais antigas guerras do mundo.
A revelação foi feita ontem no final de uma reunião em Hpa-an, capital do estado de Karen (no centro-leste da Birmânia), por um responsável governamental birmanês, avançando que ambas as partes acordaram em manter passagem segura por todo o território e também que o regime irá abrir um gabinete de comunicação na região dos rebeldes e que os karen farão o mesmo em Rangun."Esta reunião tinha não apenas o objectivo de acordar um cessar-fogo mas também o de chegar à paz", sublinhou o ministro da Imigração, Khin Yi, citado pela agência noticiosa AFP. "A tarefa começa agora", disse ainda, regozijando-se com a "verdadeira boa vontade" das autoridades, que prosseguirão nas negociações com um representante oficial da União Nacional Karen dentro de mês e meio.Há mais de 60 anos que o braço armado dos karen - grupo étnico minoritário no país, com cerca de 20 milhões de pessoas (7% da população) - lutava pela conquista de maior autonomia. Eram o único grande grupo rebelde que não tinha ainda firmado acordos de cessar-fogo com o regime, depois de os líderes militares birmaneses terem já negociado com sucesso com 17 outros grupos separatistas desde 1989.Este combate separatista, aberto pouco após a independência da Birmânia, em 1948, forçou a fuga de dezenas de milhares de aldeões da etnia karen, muitos tendo-se refugiado na vizinha Tailândia.A organização Karen Communities Worldwide, cujos membros são pessoas que fugiram da guerra, acolheu este cessar-fogo com algum cepticismo, avaliando que o mesmo "resolve os sintomas, mas não os problemas". "É preciso um diálogo político que conduza a uma solução definitva", é sublinhado em comunicado, onde a organização reitera a acusação de o Exército birmanês continuar a atacar as populações karen.Os esforços do regime para pôr fim a este conflito com os karen fazem parte de uma mais larga iniciativa do Governo birmanês - civil, mas com o apoio dos militares, e empossado em Novembro de 2010 com as primeiras eleições no país em 20 anos - que visa dar resposta a uma das principais exigências das potências ocidentais, de pacificação, para serem levantadas as sanções a que a Birmânia foi submetida.Há vários meses que o regime birmanês tem aberto portas às negociações com as rebeliões étnicas no país, a par de encetar algumas reformas políticas que a comunidade internacional interpreta como uma vontade de se distinguir do "imobilismo autocrático" com que a junta militar governou a Birmânia nos últimos mais de 20 anos.