Árabes desmentem demissões na sua missão na Síria

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Num gesto inédito, o Presidente sírio saiu à rua na quarta-feira Reuters

A polémica adensa-se à volta da missão árabe, com alguns países da própria Liga a defenderem o seu fim e o Observatório Sírio para os Direitos Humanos a considerar que é altura dos árabes assumirem que fracassaram no esforço de conter o Presidente Bashar al-Assad.

Num comunicado citando o líder do grupo, o general sudanês Al-Dabi (uma figura polémica pois esteve envolvido no massacre em Darfur), a Liga desmente todas as declarações do observador argelino Anwar Malek. “Desde que que foi designado para Homs, Malek não saiu do hotel, não fazendo trabalho de campo, com a desculpa de que estava doente”, diz o documento.

Malek disse na terça-feira à televisão Al-Jazira que abandonava a missão e teceu críticas duras ao regime de Assad, que acusou de fabricar os cenários que os delegados visitavam e de não estar a cumprir o prometido — abandonar o uso da força com que reprime o movimento anti-regime que está nas ruas desde Março de 2011. Foi com base nessa permissa que os observadores entraram na Síria, mas continua a morrer gente e a missão não passa de uma “fraude”, explicou Malek.

Entrevistado pela Reuters, o argelino disse que mais três observadores já tinham desistido: um marroquino, um do Djibouti e um egípcio. E que mais vão demitir-se. "Não sei quantos, mas são muitos". "Quando falamos com eles percebemos claramente a sua fúria", disse, especificando que outros três observadores já abandonaram a missão, um marroquino especialista em Direito, um um funcionário de uma organização humanitária do Djibouti e um delegado egípcio.

A Reuters ouviu outro observador que, pedindo anonimato, disse que abandona a Síria amanhã. "A missão não serve os interesses dos cidadãos. Não serve para nada”, disse.

Dentro da Liga Árabe há divisões sobre o que fazer a seguir, com o Qatar na primeira linha dos que querem assumir o fracasso da iniciativa de paz com Assad e avançar com outras medidas, e a Argélia a ser o país mais favorável ao regime de Damasco. “Até agora não consegui ver uma missão bem sucedida”, disse o primeiro-ministro qatari, Sheikh Hamad bin Jassim al-Thani, citado pela BBC..

O primeiro relatório oficial dos observadores será entregue no dia 19 de Janeiro. No terreno, estão mais de 150 delegados e estava previsto o envio de pelo menos outros tantos. Na quinta-feira, a Liga suspendeu este envio.

Desde que começou o seu trabalho, no dia 26 de Dezembro, que a missão está sob polémica. Primeiro, devido à escolha do seu chefe. Depois, pelos relatos dos próprios observadores, que dão conta de uma violência continuada por parte do Governo sírio, apesar de este se ter comprometido com o fim da violência - segundo as Nações Unidas, desde o início da missão morreram na Síria 400 pessoas. No total, o número de mortos (devido à repressão das manifestações que começaram em Março de 2011 e, desde o final do ano, também devido aos confrontos entre as tropas governamentais e o exército na oposição) ultrapassa já em muito os cinco mil mortos.

Na quinta-feira, a secretária de Estado dos EUA (reponsável pela política externa), Hillary Clinton, disse que a missão árabe, prevista para ter a duração de um mês, não pode continuar indefinidamente. E considerou que Assad fez um discurso "arrepiantemente cínico". Na terça-feira o Presidente prometeu combater os terroristas que diz serem repsonsáveis pela violência na Síria com "mão de ferro" (o que foi lido como uma confirmação de que a violência vai continuar), anunciou reformas, garantiu que se manterá no poder e, pelo menos por palavras, rompeu com a Liga Árabe em especial com os países do Golfo Pérsico a que o Qatar pertence. No dia seguinte, e num gesto inédito, saiu à rua para estar presente num comício a seu favor em Damasco, acompanhado pela mulher, Asma, e pelos dois filhos.

Clinton condenou ainda o ataque que matou o jornalista francês Gilles Jacquier, de 43 anos, e mais oito pessoas em Homs, num bairro pró-Assad. A oposição acusou o regime de estar por detrás do ataque, em que foi usada artilharia pesada. "O jornalista foi morto num bairro fortemente militarizado e guardado e que é uma praça forte do regime [em Homs]", disse Wissam Tarif, que pertence a um grupo da oposição local, o Avaaz. "Seria muito difícil aos grupos armados na oposição de penetrarem ali e realizarem um ataque tão mortífero", acrescentou.

Notícia actualizada às 16h05
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