Prisão de Guantánamo abriu há dez anos e Obama ainda não sabe como fechá-la

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Há 171 presos ainda na base naval

A frase podia ser de qualquer membro das dezenas de grupos de direitos humanos que organizaram protestos nos Estados Unidos e na Europa, mas pertence à comissária europeia da Segurança, Cécilia Malmström: "Presidente Obama, é tempo de cumprir a sua promessa." "Dez anos passaram desde a abertura de Guantánamo e é uma vergonha que ainda lá estejam prisioneiros sem julgamento", escreveu Malmström nos 140 caracteres que o Twitter permite.

Cumpriram-se ontem dez anos desde que os primeiros 20 presos da "guerra ao terrorismo" desembarcaram na baía de Cuba. "Os piores dos piores", segundo o antigo secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, nem presos de guerra nem de delito comum, "combatentes ilegais" sem direitos. Dos 779 que ali estiveram, restam 171, incluindo onze que lá chegaram a 11 de Janeiro de 2002. A maioria saiu sem acusação. Dos que permanecem, 89 são considerados "libertáveis" e outros 46 são "perigosos" mas não há provas para os acusar. Só 14 são suspeitos de envolvimento no 11 de Setembro.

Daqui a dias cumprir-se-á outro aniversário, o terceiro do decreto assinado por Barack Obama prevendo encerrar a prisão num ano. "Isto sou eu a cumprir não só uma promessa de campanha, mas algo que vem dos nossos pais fundadores, a ideia de que estamos dispostos a comportarmo-nos de acordo com princípios universais não só quando é fácil, mas também quando é difícil", afirmava.

Segundo diz a Casa Branca, Obama continua "empenhado" em fechar a prisão, apesar dos "obstáculos".

A cada voto do orçamento da Defesa, o Congresso impede qualquer financiamento para a transferência de presos de Guantánamo para os EUA. Um projecto de lei assinado há uma semana por Obama cria tantas regras ao uso de fundos militares para enviar presos para o estrangeiro que, na prática, impede essas transferências.

"A esperança de ver fechar Guantánamo diminui. É cada vez mais difícil política e juridicamente por causa desta lei", disse à AFP Jonathan Hafetz, professor de Direito e advogado de dois presos.

Aos advogados e activistas restam as armas de sempre, os tribunais e a rua. Segunda-feira entrou num tribunal de Nova Iorque um pedido para tornar públicos os vídeos dos interrogatórios ao saudita Mohammed al-Qahtani. "O público deveria poder ver por si próprio. Divulgar os vídeos e as fotos forneceria aos americanos documentação dos abusos sistemáticos em Guantánamo", lê-se no processo.

Entre as dezenas de protestos realizados ontem, uma cela como as de Guantánamo foi construída em Berlim e uma réplica de um prisioneiro entregue na embaixada dos EUA em Madrid. Os presos começaram a protestar na terça-feira e continuam a fazê-lo até hoje, como podem, uns recusando regressar às celas; outros recusando comida.

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